Mercic

Mercic XI
2024 | UNP Music | Rock/metal industrial

Partilha com os teus amigos

Não é o panorama mais concorrido por cá, mas é bom vermos quem o representa e se o faz bem ou se só se safa realmente pela falta de concorrência. O industrial. Claro que existe e até tem nomes gigantes no seu panorama. E tem outros mais interessantes que aproveitam a amplitude que esse tipo de música tem para experimentar todo o tipo de paisagens sonoras e dar uso à paleta de cores inteira. Aí inserem-se os Mercic, que já andam a fazer isto há um tempo – o título “XI” servirá de pista sobre quantos discos já contam – e continua a ser veículo para imensas sonoridades.

Ao longo do seu percurso, a entidade Mercic sempre tratou a música como campo onde experimentar e expressar emoções de variadas formas. Daí que talvez cada álbum funcione mais como conjunto de canções do que um álbum linear, já que cada tema pode ter a sua viagem diferente. É saber aproveitar os limites que esta música pode realmente não ter. “XI” é vendido como o mais sombrio e pessoal que a banda já lançou. Atentamos a esse “mais.” Porque sombrio sempre foi, e pessoal já teve sempre que o ser. Indicará também que é o mais experimental? Ora, começa com uma suavidade melódica mais do pós-punk em “Beat This Thing” e segue-se logo talvez a faixa mais pesada, a industrializar um metal extremo, na berrada “Love in Pieces.” Ousado, pelo menos, é e bastante. E, se as vossas referências industriais forem sempre aquelas, também dá para as atribuir aqui: “I Have Failed Since I Started Trying” é mais Nine Inch Nails e “Profiteer Mind” é mais Marilyn Manson, com um peso extra que esse nunca teve.

A individualidade de cada faixa continua a salientar-se: “A Gift Worth Everything” e “The Tear of Revenge” são das mais atmosféricas e, mesmo assim, uma mais baladeira e minimalista, e a outra mais pesada e sinistra, acabam por parecer opostas na mesma. E não dá para fugir a Depeche Mode nestas coisas, pois não? Sente-se mais em “If Freedom Is a Goal, Why Everybody Wants to Control” e, com uma “Eternal” para descansar, lá volta o peso mais feroz em “Get Out of Us.” É, de facto, um disco livre. Que se calhar pode parecer mais “playlist” do que “álbum,” mas o certo é que a personalidade de cada faixa é bem trabalhada e a coesão está lá: não é só brincar aos sintetizadores e colar uma data de ideias a ver quais ficam e quais caem. O fio condutor é encontrado após mais audições e, felizmente, essas não custam. Pode preferir-se mais uma faceta a outra, um registo vocal a outro, mas encontra-se a solidez no todo e, ao décimo-primeiro álbum, os Mercic podem ainda estar à procura de um maior estabelecimento e notoriedade no nosso panorama musical alternativo mas, para quem já tiver descoberto o segredo, sabe que pode contar com muita criatividade e variedade.

Músicas em destaque:

Love in Pieces, I Have Failed Since I Started Trying, Get Out of Us

És capaz de gostar também de:

Nine Inch Nails, Throbbing Gristle, Front Line Assembly


sobre o autor

Christopher Monteiro

Partilha com os teus amigos