Uma cruz que muitas bandas que surjam de outra têm que carregar é a associação constante à sua banda de origem. A voz de Jason Netherton já expeliu muita fúria em clássicos antigos dos Dying Fetus, o que acaba por dificultar um pouco a fuga da sombra dos mesmos. Por muito enorme que seja a influência dos Dying Fetus, é injusto que os Misery Index ainda não tenham completado a dissociação da banda-mãe dentro de alguns círculos, após quase duas décadas de consistentes grandes discos, como “Rituals of Power” continua.

Herdaram deles a língua afiada e a consciência para as letras políticas, assim como toda a brutalidade e músculo dos seus riffs, breakdowns e grooves quebra-pescoços. E, como os “pais,” também eles têm uma fórmula vencedora na qual mexem pouco para manter os seus álbuns bons. Mas até aí chegarão as comparações, onde ainda são saudáveis. De resto, o death metal directo, bastante infectado com grindcore e uma aspereza punk, tudo isso é Misery Index. E tudo isso está em “Rituals of Power” que só varia do brilhante antecessor “The Killing Gods” ao ser mais directo ainda. Menos preocupado com melodia – não deixa de haver aqui muito bom refrão cheio de atitude – e mais voltado para a brutalidade straightforward que combine com as letras críticas de carácter sócio-político, com algum thrash e hardcore a sobrepor-se à chinfrineira descontrolada do grindcore que sempre lhes corre no sangue – e será muito descabido detectar algum crust em “Decline and Fall” e na faixa-título?

Se for para recorrer a exemplos, ouça-se apenas “The Choir Invisible,” “New Salem,” “I Disavow” ou “Naysayer” e, depois de recuperar o fôlego e deixar o processo de cura das pisaduras começar, entende-se imediatamente porque é que os Misery Index, ao sexto álbum, ainda podem manter o seu som familiar de forma tão descontraída, quando ainda causa tanto impacto. Com a sua fórmula que se calhar até já os aproxima mais dos Napalm Death do que dos Dying Fetus, já são a sua própria banda, à vontade. A merecer mais reconhecimento do que aquele que têm e que o conquistam à pancada. Porque fazem falta uns Misery Index. Porque faz mesmo muita falta um “Rituals of Power” de vez em quando.