“Dissertações de um Cidadão Comum Desesperado, Prestes a Cometer um Atentado,” pronto, está aí o título. Não querem algo vago nem deixar-nos assim tanto espaço para a imaginação, já que é realmente a descrição mais exacta e rigorosa do que se passa neste disco dos Murro. Que, lá por optarem por um título longo, são tudo menos uma banda de engonhar. Mais directo que isto, realmente, só um literal murro.

Claramente não são indivíduos de ficar indiferentes ao que está à sua volta e como “às vezes um homem tem que fazer justiça pelas próprias mãos,” como afirmam, têm aqui um ruidoso mas muito entusiasmante contributo. Um apelo na forma de disco. Grunhidos, com quanta cólera uma garganta consegue ter, a clamar as críticas e observações, quase a soar a um Rui Sidónio ainda mais endiabrado e bem menos preocupado em ser poético. Que aqui, tudo o que seja fantasioso, mitológico ou poético, fica para trás. Estas “Dissertações de um Cidadão Comum” são sobre temas como desigualdade social, desemprego, violência, crise climática, o tão bom funcionamento do SNS, e mais uma data de coisas que estão mesmo no nosso dia-a-dia. Inescapáveis. Que fazem deste disco, mais do que bem-vindo, necessário.

Claro que a materialização de raiva tinha que ser musicada da forma mais natural. O mais selvagem do punk no seu estado hardcore, um d-beat ali para garantir que não podemos abrandar ou baixar a guarda, e talvez com a sua maior submissão ao thrash de raiz nos riffs que, mesmo com uma forte mensagem na voz, acabam por se chegar à frente e destacar-se. A variedade entre canções está mais na temática, mantendo sempre o mesmo nível de selvajaria, como quem nos diz que não devemos facilitar. Nem no acompanhamento desta castanhada, nem na vida, tão de pernas para o ar como já está. Uma descarga de raiva bem genuína, que cimenta os Murro como animais de palco com muita procura, e um álbum ideal para o final de um caótico dia daqueles. A um Murro destes, viramos a outra face.