Overkill

Scorched
2023 | Nuclear Blast | Thrash metal

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Às vezes sentimos mesmo um impulso de dizer a algumas bandas que deviam parar. Porque já lhe perderam o jeito, começam a arruinar o seu próprio legado e embaraçam toda a gente. Mas há raros casos diferentes em que temos uma tendência a sugerir abrandar porque nem sabemos nós como é que ainda conseguem. Aí já é uma preocupação com a saúde das pessoas. Diz que Blitz já tem 63 anos. E berra como ainda berra aqui em “Scorched.” Nem parece estar certo. Mas cá está ele. E cá estão os Overkill. Com mais um tiro certeiro na sua vasta discografia e mais de quatro décadas de carreira. Parece que nem é suposto isto ainda estar assim tão bom. A preocupação é essa, para quem se assustou com a frase introdutória. Não sabemos como os Overkill ainda conseguem.

É tudo o que esperamos, com a surpresa a ficar reservada para a execução e capacidade que estes pioneiros ainda têm. Em tempos em que não podemos confiar em nada, com hipermercados a aldrabar-nos, ao menos com os Overkill é tudo como diz exactamente no rótulo e a custar-nos sempre o mesmo: um pescoço. Não é thrash genérico, é exemplar. Como se, a cada álbum, arregaçassem as mangas e combinassem mostrar à malta nova como se faz isto. Sem desprimor a juventude que faça isto bem. Mas os Overkill cada vez caem mais naquele elogio vago em que apenas dizemos que “Overkill é Overkill” e já esperamos um tremendo disco, mesmo a esta fase da carreira. Com este contam vinte! E soam assim. Na verdade tem sido assim, especialmente desde o “Ironbound” de 2010. Viram o thrash nascer e ajudaram nesse parto – só por benefício a outros e por desvantagem geográfica é que não os metem lá num clube restrito de “big four” – e ainda o tocam com esta energia. Rejuvenesceram, ao que parece.

A criatividade até pode ficar no banco de trás, ainda para mais com estas bandas sem algo a provar, mas acaba por intervir. Os próprios não querem deixar isto fazer-se sozinho para que realmente soe a thrash cansado. Avisaram-nos de ser, quiçá, o seu trabalho mais melódico. Nada de alarmante, a fúria é a mesma, no máximo sente-se a conexão maior com o speed metal, pai do thrash, que os Overkill terão praticado inicialmente quando realmente o thrash estava na sua génese. Com a voz de Blitz, lá dá para lhes chamar novamente uma espécie de “Accept mais nervosos” mas tudo isso é redutor. Como apontar o registo vocal rápido mas cuidado de “The Surgeon” ou o refrão quase cantado de “Twist of the Wick,” o desacelerar temporário e laivos de Ozzy em “Fever,” o groove de “Won’t Be Comin’ Back” e o saco sem fundo que contém as melodias que os Overkill ainda conseguem sacar para um refrão simples mas de causar alvoroço. O peso nunca se compromete. Aliás, de notar que este “Scorched” foi lançado no mesmo dia que outra novidade de umas certas outras lendas do thrash, a quem já prestámos os devidos e merecidos louvores. Mas sim, os Metallica têm o seu peso contido. Holding punches. Os Overkill não. Mais depressa estão cada vez mais tolos.

Músicas em destaque:

Scorched, The Surgeon, Twist of the Wick

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Destruction, Slayer, Accept


sobre o autor

Christopher Monteiro

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