Ainda vale a pena perder muito tempo com descrições gerais de como soam esses monstrengos Australianos que são os Portal? Ou mais vale atirar o desprevenido que ainda não os conhece para o meio do caos e das trevas e vê-lo a espernear enquanto tenta perceber e distinguir o que se passa no meio desta ruideira? Enquanto se confortam os velhos fãs dizendo logo de uma vez que não, não há aqui melodias bonitas, shreds ou riffs cheios de groove. “Avow” é mais terror assinado por uma das mais aterradoras bandas que já aí andam há mais tempo que aquilo que são reconhecidos.

Se “Ion” foi desafiante por deixar entrar um pouquinho de luz naquela densidade aparentemente impenetrável, sem que isso realmente interferisse na inacessibilidade e medo da sua música, “Avow” traz imprevisibilidade como antecedente. Como sempre. Os Portal não nos querem descansados. Mal entra o basqueiro do riff – tão imediato! – de “Catafalque,” já sabemos a atmosfera que vai pairar sobre nós e sabemos que a integridade malévola dos Portal está intacta e acabamos de entrar num novo pesadelo. A faixa arrasta-se pelas trevas com mais rugires ameaçadores, à medida que o tema se vai desconstruindo e já nos deixa desorientados e às apalpadelas, ainda com o resto por vir. O teste inicial de dez minutos antes de seguirmos pelo breu abaixo, a levar com mais camadas de riffs, feedback, blast beats, noise, dark ambient e uma parte técnica medonha a não tirar protagonismo à parte mais minimalista que, quando abranda, é capaz de envergonhar muita banda de funeral doom que trocava todo o armário de capuzes por um álbum com metade deste ambiente.

Tão inclassificável como sempre, mantém a sua base ainda no death metal, tão virado do avesso quanto ainda consigam. Se até desfrutamos e temos tido muita coisa boa dentro do estilo na sua forma mais tradicional, cheio de velocidade, groove e outras características, temos uma chapada destas, tão vanguardista que volta a estabelecer o lugar dos Portal num lugar único na música extrema – com bons seguidores já a conseguir acompanhá-los. “Avow” traz exactamente o tipo de desconforto que se procura desde que queixos caíram com “Outré” e os Portal não querem que baixemos a guarda. Como prova disso, há “Hagbulbia” um disco surpresa, quase anexado a “Avow” dedicado apenas à parte puramente noise e dark ambient dos Portal, só para prolongar a tortura. Querem-nos sempre alerta!