Se já conquistaram o “Unlimited Love” dos seus fãs, então não há qualquer razão para estarmos a questionar a necessidade de um novo álbum dos lendários Red Hot Chili Peppers, no caminho das quatro décadas de carreira. Porque podem e porque ainda cabem no panorama actual, nem que já lancem cada disco para testar isso mesmo – será que “I’m with You” e “The Getaway” já couberam um pouquinho mais à justa que os anteriores? Mas este novo álbum seria de celebração, de qualquer forma. Celebra-se o regresso de John Frusciante a casa. Mais um regresso, sim.

O álbum até se podia manter muito simples e ser aquela reunião de irmãos, aquele alinhamento derradeiro da banda e trazer-nos apenas o melhor de cada um, como uma compilação de êxitos que ainda não tivessem lançado – como foi, de certa forma, o algo subvalorizado “Stadium Arcadium,” analisando-o bem. Os cuidados estarão no tratamento daquelas que serão as suas maiores marcas, sem cair na auto-paródia. Da forma mais simplista, o que se esperaria de uns Red Hot Chili Peppers pintados por números seria umas canções enérgicas cheias de funk e da química entre a guitarra estival de Frusciante e um baixo desenfreado de Flea, alternadas com outras mais suaves e um jogo de bebida para um shot a cada vez que mencionem a California – neste até se safavam sem grandes mazelas, vá. Porém, é precisamente isso que faz dos Chili Peppers eles próprios e o que lhes deu a relevância em 1991, que a renovou em 1999, que assim os manterá em 2022. Mais maduros, sim, especialmente a nível lírico. Também era melhor, a parte depravada já não ficaria tão bem, isto são gajos a entrar na casa dos 60 anos, não precisam de outra “Special Secret Song Inside” de hormonas aos saltos e sabemos bem o quão facilmente Kiedis deambula para o puro disparate.

Não fascina como já fizeram noutros tempos mas até consegue algumas fendas por onde surpreender, candidatando-se a ser do mais interessante que fazem desde os tempos de “Californication” e “By the Way,” que tão bem os introduziram ao presente século, chegando a ter mesmo alguns paralelismos sonoros com esses álbuns. Compila as suas assinaturas, há refrão grandioso em “Black Summer,” funk fanfarrão em “Aquatic Mouth Dance,” exibicionismo do flow de Kiedis em “Poster Child,” melancolia em “It’s Only Natural,” rockalhada em “These Are the Ways,” pôr-do-sol à beira-mar na inevitável ode à California em “White Braids & Pillow Chair,” diversão saltitante em “One Way Traffic” e um fecho calmo à “Road Trippin’” em “Tangelo.” E muito mais. Talvez demasiado, que lá insistem eles em abusar da duração do álbum e apresentar algo muito longo, onde faixas de menor destaque se perdem facilmente. “Unlimited Love” não é um disco perfeito, mas muitos dos seus pecados são perdoáveis e trazem-nos o “Universo RHCP” de volta e em boa forma. E são as boas-vindas de volta ao velho amigo Frusciante!