Quando há muita coisa, lá temos nós que começar a separar e a filtrar. Muito bom thrash grosseiro cheio de groove se fez por cá no nosso país até começar a ameaçar o excesso. O entusiasmo inicial esmorece e é possível que a nossa atenção para dito movimento também. Erro. Depois fecham-se os olhos e passam ao lado assim uns Shadowmare e um “While Trapped Inside” que os manda directos para a primeira liga da música pesada nacional.

O que podia ser um simples groove metal com muito hardcore injectado, a agradar ao ávido fã dos Switchtense, “esconde” muita coisa. Com aspas porque as nuances e os truques até nem estão nada escondidos. Salta logo à vista que, para o estilo, os temas têm durações relativamente longas e salta logo ao ouvido a técnica instrumental, especialmente nas guitarras. Sem quaisquer tiques à Vektor ou com excentricidades à Dark Angel, somos na mesma tentados a chamar a “While Trapped Inside” um disco de thrash metal técnico. Groove metal técnico, existe? Se não, atribuímo-lo agora aos Shadowmare. Técnica que não esconde o peso e a brutalidade, peso e brutalidade que não escondem as melodias. Até seria muito cedo para já conseguir administrar este balanço com esta maturidade, mas dominam estruturas de canções mais desafiantes e fazem-no parecer fácil.

O certo é que não são nenhuns novatos e “While Trapped Inside” é já o segundo álbum da banda algarvia. E ainda fizeram o bom povo esperar quatro anos por este segundo registo e deviam estar esse tempo – a maior parte dele sem chance de partir para a estrada e rachar palcos – a afinar bem a máquina. “While Trapped Inside” será dos álbuns mais surpreendentes dentro deste estilo que ouvirão, com canções quasi-progressivas sem dispensar a moshpit, e um trabalho de guitarras quasi-neoclássico de causar tonturas a desprevenidos. Como se já não existissem milhares de pontos de interesse no Algarve para além do Verão, acrescentem-lhe esta malta.