Já com meia dúzia de discos completos, os Soen já conquistaram o respeito dos fãs da música pesada, progressiva, na sua vertente mais melódica. Mesmo assim têm obstáculos a ultrapassar. O primeiro estigma seria o de também estarem muito colados à referência dos Tool. Também se poderia sentir, ali mais ao menos a meio do percurso, que o baterista Martin López trazia mesmo muita influência dos Opeth. Ainda parecem andar à procura da sua identidade e cada passo é analisado à lupa.

“Memorial” parece dar mais passadas no trajecto iniciado em “Lotus.” Que os estigmatiza com outra coisa e traz-lhes um palavrão proibido e aterrador: a acessibilidade. Tudo reconhecível do que já tenhamos ouvido em registos anteriores dos Suecos, mas pode ser o mais acessível e mais próximo de um rock alternativo com músculo e de algumas sensibilidades melancólicas quase de arena rock – tomaram-lhe o gosto às baladas e temos que os desculpar por isso, porque até as fazem bem. A complexidade desce para uns níveis mais baixos, o peso é usado com mais cuidado e precisão – permitem que faixas como “Unbreakable” ou “Icon” se destaquem – e chega-se à frente a escrita de canções, as melodias, a maturidade emocional.

Muitos também diriam a lamechice mas, com cinismos à parte, “Memorial” é o disco que melhor administra o contraste entre a escuridão e algum positivismo, algo que não se sentia tanto nos anteriores. Como se a melancolia dos Katatonia ou dos Anathema ganhasse uma maturidade AOR. Ou como se a tal referência dos Tool se deixasse esbater para reduzir na esquisitice. E é por ser tão simples que se torna arriscado, podia equivaler à transição das bandas progressivas dos 70s para a década de 80. É um disco muito acessível, sendo esse o seu maior risco, mas ainda tem várias portas abertas para diferentes direcções a tomar. Podem retomar a ambição mais complexa de outrora ou podem seguir por esta vertente, despir-se mais ainda, e acabar nos básicos do hard rock e do alternativo. E aí sim, arrisca-se a cair no insosso e desinteressante. Para já, “Memorial” ainda soa a um álbum maduro.