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Uma coisa é espremer legados póstumos até à última gota para fazer render além de onde valha a pena e de onde haja gosto e respeito. Outra completamente diferente é organizar uma bela despedida, concluindo trabalhos inacabados que trazem um pesado e emocional adeus a cada palavra ou nota cantada. É o caso de “In the End,” disco com que os Cranberries encerram o seu percurso e no qual trabalhavam antes da prematura e devastadora partida da inigualável Dolores O’Riordan em Janeiro de 2018.
É impossível não sentir a carga emocional que estas canções têm. Por hábito, já lhes associamos a melancolia e a inimitável voz de O’Riordan já leva décadas a puxar água dos olhos de ouvintes que se relacionem com as suas letras intimistas. Em “In the End,” sabendo que foram estas as últimas notas que cantou, não é nada fácil ouvi-la a repetir o refrão “It’s all over now” na faixa introdutória ou a pedir para “bring in the night” em “Lost.” Não devem existir profecias à la “Blackstar” por aqui, com uma morte acidental a interromper um momento muito positivo e entusiasta na vida de O’Riordan, especialmente com o material em que escrevia e trabalhava. Mas apenas reforça um disco muito bem montado para ser uma doce e digna despedida. O fecho perfeito “In the End” até nos traz aquele raio de luz positivo que sempre iluminou a melancolia da música dos Irlandeses, ganhando um novo tom de seguir em frente e olhar para tudo de bom que ficou para trás, com um sorriso.
O modo throwback também se sente na despedida, com a instrumentalização que completa as demos vocais de Dolores e uma produção a remontar intencionalmente aos seus clássicos da década de 90, com alguns dos momentos mais baladeiros a fazer lembrar uma “Linger” e uma variedade de estilos com flexibilidade entre a folk tradicional Irlandesa e um rock mais musculado a lembrar os clássicos “No Need to Argue” e “To the Faithful Departed.” “In the End” não é propriamente um desses clássicos álbuns que já foi banda sonora de muita infância, adolescência, idade adulta, o que seja, era difícil escapar-lhes. Mas é um estupendo fecho de percurso que os membros sobreviventes tinham receio em não conseguir. Sempre com um refrão simples para cantar em conjunto com ela, onde estiver agora, não há qualquer impressão de canção inacabada ou manta de retalhos. É digno. É um legado intocável. E uma despedida emotiva.
All Over Now, Wake Me When It’s Over, In the End
Todos aqueles álbuns dos Cranberries que fizeram o mundo cair por eles