The Used

Heartwork
2020 | Big Noise | Post-hardcore, Pop rock

Partilha com os teus amigos

2020 ia ser um ano do caraças. Até ia ser ano para malta já crescida ir resgatar o eyeliner e os fundos do Hi5 com caveirinhas: o emo ia voltar com força. A bomba da reunião dos My Chemical Romance era uma realidade e um cancelamento abrupto de uma tour dos The Used devido a outros planos ainda causava mais água nas bocas outrora já pintadas de negro ou roxo escuro. Mas lá acabou por acontecer aquilo que bem sabemos, lá são adiados os planos todos, ninguém faz digressão nostálgica com ninguém, ficamos todos em casa a ouvir novamente o “Three Cheers for Sweet Revenge” ou os três primeiros álbuns dos The Used. E porque não o “Heartwork” se ele até nos chegou às mãos nesta altura?

Para começar, os The Used nem precisavam de nenhuma reunião porque até nem tinham ido a algum lado. “The Canyon” de 2017 pode ter passado relativamente despercebido mas teve uma tremenda aclamação por fãs e críticos que apontaram amadurecimento sonoro e lá os tornou um novo e renovado acto de culto. “Heartwork” parecia vir para recuperar algo dos primórdios, confundindo mesmo com um título tão semelhante a “Artwork” de 2009. Vão por aí inicialmente, mas o disco divide-se: as primeiras cinco faixas são uma entrada de luxo de uns The Used à “Lies for the Liars” sem soar forçosamente saudosistas, com um som evoluído e sensibilidade pop ainda mais vincada que antes. À medida que o disco avança e as canções experimentam diferentes roupagens e por vezes perdem-se pelo meio das interludes, o foco dispersa-se, a promissora abordagem de “como soa o emo de 2005 em 2020” perde para a total redenção à pop, mais à moda de outros contemporâneos como Fall Out Boy ou Panic! at the Disco, que nunca tiveram sequer um quinto da edge que os The Used tinham.

Até os convidados são de resultados mistos: Jason Aalon Butler (Letlive, Fever 333) em “Blow Me” até reforça a marca The Used e Caleb Shomo (Beartooth, Attack Attack!) em “The Lottery” até ajuda para a faixa mais pesada do álbum. Já duas figuras lendárias dos blink-182, como Travis Barker numa mediana “Obvious Blasé” e Mark Hoppus numa “The Lighthouse,” que remonta bem mais a uns Imagine Dragons do que a qualquer nostalgia pop punk de onde os The Used também beberam bastante, não fazem muito para enaltecer “Heartwork.” Algumas das melhores propostas melódicas da banda de Bert McCracken como “Blow Me,” “Bloody Nose” ou “Gravity’s Rainbow” ainda com aquela pujança post-hardcore; uma “Clean Cut Healselectrodance/pop a abrir a questão se os fãs estavam mesmo a morrer por uma assim; “BIG, WANNA BE,” “Darkness Bleed, FOTF” e uma melancólica “To Feel Something” a sugerir o som transitório para o “stadium pop rock” moderno que eles talvez procuravam que todo o álbum soasse. Um mixed bag sobreproduzido a arriscar-se a ter a “Wow, I Hate This Song” deste disco virada contra si. Não se tira mérito aos esforços por inovação e até pode ser álbum que ganhe mais força com o tempo, mais audições e sucessores mais coesos. Até lá, se calhar ficamos mesmo a ouvir os três primeiros.

Músicas em destaque:

Blow Me, Gravity’s Rainbow, The Lottery

És capaz de gostar também de:

My Chemical Romance, Chiodos, Silverstein


sobre o autor

Christopher Monteiro

Partilha com os teus amigos