É para mergulhar na escuridão. A desolação até pode ser temporária e acompanhada por uma atmosfera negra mas que acaba por ser aprazível. No final, o objectivo é termo-nos encontrado a nós mesmos e com uma adquirida capacidade de voltar a penetrar este breu e saber conviver com ele. E nem é preciso descer aos confins do inferno para esta experiência, vem tudo aqui do norte do nosso país, já frutífero e histórico no que à música extrema diz respeito. É de lá que sai o longa-duração de estreia dos Voidwomb, a soar a veteranos que já dominam isto há décadas.

São de Viana do Castelo e já fizeram voltar cabeças com o anterior EP. Os pescoços não se ficaram por essa viragem e responderam ao peso que os Voidwomb apresentavam. O que tocavam e tocam em “Spiritual Apotheosis” é um black metal de cunho próprio, que sabem decorar com outros elementos, com alguma familiaridade mas fintando clichés. Porque ainda se sente aquela imersão com o death metal, que leva este negrume para alturas mais épicas, talvez com uma pujança que muitos sentirão que anda a faltar aos Behemoth há um tempinho. Mas que até nem deixa de ser boa referência. Isso e a malícia que também já se tornou muito portuguesa – desculpem, Moonspell, vocês ainda são os maiores, mas já existem uns Gaerea a carregar a bandeira por aí fora e a influenciar muitos. Ouvem-se mais referências mas também já existe suficiente para as tornar obsoletas.

Black metal que vai a raíz sem ser tão de raíz, fundido com death metal e embebido de doom sem lhe mudar a temperatura, e com muita passagem vanguardista sem estar aqui só a inventar por inventar. Já de encontro marcado num grande palco internacional, têm em “Spiritual Apotheosis” muitos argumentos para se tornar um crescente nome internacional, com pouca concorrência que se lhes assemelhe, e a influenciar novos actos a tentar a sua sorte num black metal enevoado, com tanto de abatedor como de triunfante e com uma dissonância que abre um portal para outra dimensão. A referência exemplar já está aqui.