MÚSICAS DA SEMANA

#220

com

Mariano Marovatto

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© Anastasia Lukovnikova

Escolhas de Mariano Marovatto

The Kinks - See My Friends

Inventei a teoria de que por uma simples questão de engenharia sonora, os Kinks, nos anos 60, não alcançaram toda a fama que os Beatles e os Rolling Stones conquistaram. Há uma frequência sonora aguda específica dessa fase de estúdio da banda que de fato cansa aos ouvidos. Revisitando, com mais atenção, o cancioneiro dos anos 60 do Ray Davies, é notório o esmero do band leader dos Kinks com as composições e seus arranjos. Ray é uma máquina de fazer canções, da linhagem de um Cole Porter. See My Friends, portanto, é uma dessas jóias. Curiosamente é a primeira de todas as canções britânicas com inspiração indiana. Os Kinks, creio que após uma turnê na Austrália, fizeram uma pequena escala em Mumbai, onde Ray, nas ruas, ouviu alguma coisa da melodia lindíssima que acabou por usar na canção. De volta à Londres compôs esse brit-mantra, pioneiro, genuíno, estranho e belo que foi ofuscado meses depois pela cítara de George Harrison em Norwegian Wood… porque esta foi gravada de forma excelente.

Leonard Cohen - First We Take Manhattan

A ignorância musical pode ser uma maravilha. Por exemplo, ninguém nunca havia me apresentado o álbum I’m Your Man do Cohen, propriamente, até a tristíssima morte do compositor. Felicidade em descobrir tardiamente – como alguém que recupera a memória após uma crise de amnésia – essa faceta eighties do Cohen, desse disco, que para mim é uma ironia feroz ao zeitgeist sonoro da época. Esse tema de abertura do álbum tem versos maravilhosos, despropositados, e deu-me, não poucas vezes, vontade de sair dançando pela casa. Há no YouTube um videoclipe feito pela TV alemã, com Cohen e duas cantoras-dançarinas, sentados numa mesa dublando a canção. É igualmente genial.

Heróis do Mar - Paixão

Logo quando cheguei à Lisboa, no primeiro dia, um domingo de sol, resolvemos ir à praia em Cascais. No rádio do carro tocou “Paixão” e foi a primeira vez que escutei essa canção. Pego de surpresa, por uma boa surpresa, fiquei pensando que talvez este seja o refrão mais chiclete, e talvez, a canção mais redonda do pop-rock português  (que em seguida procurei estudar). Fiquei feliz em descobrir a figura do Pedro Ayres (que conhecia, logicamente, pelos Madredeus, por conta do filme de Win Wenders) e sua vital importância para a música portuguesa nos últimos 30 anos. Entendo que Pedro tenha um ouvido generosíssimo que soube tratar com o devido cuidado sonoro personalidades tão diferentes como António Variações e Teresa Salgueiro. E sim, Heróis do Mar virou meu grupo português favorito de 2016! Uma pena não ter dançado essa canção durante a adolescência no Brasil. Na realidade isso diz muito sobre o isolamento cultural que os ouvidos preconceituosos brasileiros se auto impõem, seja em relação à música lusófona, seja em relação à América Latina, nossos vizinhos.

Sinead O’Connor - War

Nesse fim de 2016, por conta dos reveses, pensei mais uma vez nessa canção de Bob Marley. A interpretação de Sinead O’Connor é uma das mais arrebatadoras do século XX, creio que não há nada que se compare ao momento em que ela rasga a foto do papa João Paulo II e diz: “fight the right enemy”. A letra, descobri recentemente, é uma adaptação de Bob Marley de um discurso de Haile Selassie II (então imperador da Etiópia) proferido na ONU, em 1963, que – conforme reproduzido na canção – faz menção direta à Guerra Colonial Portuguesa. Unindo o ato de protesto anti-católico de Sinead e a menção à Angola e Moçambique, descubro acidentalmente o quanto essa versão de War pode ser um ataque a história de Portugal. Gostava imenso de entender melhor como é lido hoje em dia o discurso contra a violência colonialista, a violência racista, a violência religiosa em Portugal. No Brasil de onde venho, surgido em 2013, essas vozes felizmente não se calam mais. Nessas horas, mesmo em Portugal, percebo como a Europa, vivendo nela, é de fato o lado de cima do mundo.

Sérgio Sampaio - Filme de Terror

Sérgio Sampaio creio que seja desconhecido do grande público português. Cantor e compositor único, lançou apenas três discos em vida. Essa é minha canção predileta dele. Ela diz respeito ao Brasil da ditadura, mas também diz respeito ao Brasil de hoje. Gosto muito dela também por conta das referências geográficas do Rio de Janeiro que ela traz, bem longe da Zona Sul. O Cine Império da Tijuca virou uma igreja evangélica, tenho quase certeza, assim como todos os cinemas da Tijuca. Assim como o Cine Baronesa, na Praça Seca, onde meus pais costumavam ir nos anos 60. Virou igreja da mesma facção do próximo prefeito do Rio de Janeiro. O Guinga, violonista, que também frequentava o Baronesa na mesma época, fez um disco com o nome do cinema anos atrás. Já fui algumas vezes no Cemitério do Caju. Não tenho parentes enterrados lá, mas enterrei pessoas muito queridas. Cruz e Souza, o grande poeta, está lá, aliás. Logicamente não fui ao seu funeral, mas gostava imenso. Sérgio Sampaio morou no mesmo prédio que eu morei. Por falta de maiores provas, gosto de pensar que morou no mesmo quarto e sala que eu, no Leblon, quando ainda era possível morar num quarto e sala no Leblon. “Dura um ano inteiro, o filme de terror” é um dos maiores versos da música popular lusófona.

Escolhas de Hugo Rodrigues

Biffy Clyro – Living Is A Problem Because Everything Dies

Depois de algumas passagens pelo nosso país onde foram responsáveis por primeiras partes e festivais, os escoceses Biffy Clyro estrearam-se finalmente em nome próprio no muito apropriado palco do Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Donos de um rock ora orelhudo ora a puxar pelas suas raízes mais pesadas, a banda mostrou mais uma vez e durante praticamente duas horas que se encontra em excelente forma. Esta Living Is A Problem Because Everything Dies costuma ser atacada logo ao início e na passada sexta-feira não foi diferente.

Frank Carter & The Rattlesnakes – Lullaby

O ex-Gallows e a sua banda foram responsáveis pela primeira parte de Biffy Clyro e eram para mim também um dos pontos de interesse da noite. Carter é um monstro em cima do palco, no bom sentido da coisa, e o mais recente álbum é algo a ser ainda mais explorado.

The Gaslight Anthem – Selected Poems

A chuva e o tempo mais cinzento de alguns dias desta semana puxaram-me para a voz de Brian Fallon e dos seus The Gaslight Anthem.

Galo Cant'Às Duas - Marcha dos que voam

Recentemente foi dado a conhecer o primeiro single do álbum de estreia do duo de Viseu Galo Cant’Às Duas e, tendo em conta o que se pode ouvir em Marcha dos que voam, sabemos que “Os Anjos Também Cantam” vai ser bom, podem confiar.

P.O.S. – Thieves/Kings

Quem também editou já este ano um novo álbum foi P.O.S. Não estou a gostar tanto quanto gostei de We Don’t Even Live Here, mas tenho que dar mais tempo útil a este Chill, dummy.

Escolhas de Natália Costa

Michael Jackson - Man in The Mirror

Não é que eu goste particularmente de Michael Jackson (apesar de ele ser incontestavelmente o Rei do Pop), mas tenho-me fartado de ouvir esta música. Acordei com ela na cabeça um dia destes – é assim que regresso a muitas – e não descansei enquanto não a ouvi repetidamente. A letra é inspiradora e, particularmente útil, no arranque do ano. “If you wanna make the world a better place take a look at yourself and make that (pausa) change“.

David Bowie - Changes

Adoro Bowie e diversas das suas músicas! Esta semana ouvi esta diariamente, sobretudo a caminho do trabalho, maybe because there may be changes ahead! E as mudanças, apesar de assustadoras, são sempre uma constante na vida e trazem muitas vezes novas possibilidades.

Beach Boys - Kokomo

Uma daquelas músicas que nos faz lembrar de sítios paradisíacos, férias, praia e nos faz sonhar, particularmente útil em Janeiro, no pico do Inverno. Eu adoro os Beach Boys e hei-de voltar e voltar a eles vezes e vezes sem conta. A música do Verão, a música das férias, dos amigos, dos sonhos, da alegria!

Bryan Adams - Everything I Do (I Do It For You)

Tão antiguinha esta! Esta é uma, entre outras dele, que andei a ouvir esta semana, porque vou assistir ao concerto dele em Oslo a 9 de Fevereiro e já voltei a revisitar os seus clássicos. Era muito miúda quando este filme e música andavam na berra. Mas sempre ouvi em casa (os meus pais são fas incondicionais dele) e sempre adorei o filme! Tive aquela fase em que achava o género lamechas e enjoativo, especialmente esta música em particular. Mas agora reconheço-a como um grande clássico. Hei-de voltar sempre a Bryan Adams, uma lenda da música, e será um dos escolhidos nos próximos dias para me preparar para cantar bem alto no dia do concerto.

David Fonseca - 80s

A minha música preferida às sextas: cheia de energia! Here comes the weekend my friends, when the time is just ours and ours alone and we can do whatever we want with it and we can dance and laugh and dream like we were 16!


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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