MÚSICAS DA SEMANA

#223

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oLUDO

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© Ricardo Bernardo

Escolhas de oLUDO

Damon Albarn - Hostiles (Davide)

Esta música mostra a simplicidade do processo criativo, a utilização de sons crus e muito bom gosto nos “loops”, reflete uma sonoridade muito profunda e intimista.

The Last Shadow Puppets - The age of the understatement (João Baptista)

Adoro quase todos os trabalhos do Alex Turner, é um escritor nato e vejo nesta canção a mensagem de como hoje a emoção e o sentimento verdadeiro são escondidos. São metáforas para como as pessoas tendem a não mostrar o que sentem, quando o sentem ou disfarçam para parecer normal e sem afetar, como se mostrar emoção fosse sinal de fraqueza, vulnerabilidade ou mesmo ingenuidade.

Trata-se de desempenho em vez de honestidade, subentende-se também que o afeto está lá “para alugar” e quem sente, deseja o “beijo” verdadeiro. É como desejássemos uma emoção impulsiva e honesta. Temos muitas vezes de “verificar o pulso” para ver o que a outra pessoa está realmente a sentir porque não vai mostrar o que sente verdadeiramente.

A música que dá nome ao álbum está bastante completa, com muitos instrumentos a entrar e sair. As vozes são absolutamente geniais, bem como todo o arranjo de cordas. A ouvir em “repeat”.

LCD Soundsystem - Drunk Girls (Paulo Ferreirim)

Porque não tem máscara.

Carlos Paredes - Verdes Anos (Luís Leal)

Esta é uma canção que resume para mim a alma Portuguesa. Na gravação ouve-se a respiração do músico, ouve-se como inspira profundamente antes de começar as frases mais longas, articulando partes rítmicas com pausas e relentandos, um diálogo expressivo e emotivo que sabe o que quer dizer.

Mesmo não gostando deste género musical, é impossível não ser tocado por esta canção tocada desta forma por este Mestre.

You Can't Win, Charlie Brown - After December (Nuno Campos)

A minha escolha tinha que passar pela produção nacional. Esta música foi lançada em 2014 mas poderia ter sido ontem, é daqueles temas que ouvimos e queremos mais. Sem ser orelhuda, agarra-nos no tempo, na melodia, nos gospels, nos pormenores. Do melhor que se faz em Portugal.

Escolhas de Hugo Rodrigues

Explosions In The Sky - The Birth and Death of the Day

Quando não apetece começar os dias a rasgar.

Grizzly Bear – All We Ask

Enquanto fazia zapping, num qualquer dia da passada semana, cruzei-me com um programa sobre os “grizzly bear” – o animal, não a banda. No entanto, uma coisa levou à outra e recordou-me da existência destes tipos. O efeito cascata levou-me até ao Veckatimest, disco que não ouvia há um porradão de tempo, e até esta All We Ask.

Mastodon – Show Yourself

Foi uma boa semana em novidades sobre os Mastodon. Em Junho há encontro marcado com o público nacional, Emperor of Sand está quase aí e há um novo vídeo para Show Yourself bastante engraçado.

Stone Dead – Apple Trees

O primeiro longa duração do quarteto de Alcobaça ficou disponível para audição recentemente e recomenda-se.

Marvins Revolt – Multiple Fractures

Mais um disco a recordar esta semana e que nunca fica apenas por uma audição.

Escolhas de Vera Brito

Slow J - Sonhei Para Dentro

Entrada directa para os melhores concertos do ano e ainda vamos em março. Pelo que assisti na passada sexta-feira não vai demorar muito até que todos conheçam Slow J e com um álbum de estreia assim até seria pecado.

Bonobo - Break Apart (ft. Rhye)

Bonobo é paixão antiga e é bem capaz de este ano só por si me levar ao Alive. Migration tem rodado em loop vários dias desde que saiu e esta “Break Apart” com os Rhye (que curiosamente atuam no mesmo dia) é das coisas mais bonitas que me lembro de ter ouvido nos últimos anos.

Arcade Fire - Power Out

Não oiço Arcade Fire tanto como em outros tempos, mas é curioso perceber que é muitas vezes a eles que recorro nos dias difíceis em que preciso elevar as energias.

King Krule - The Noose of Jah City

Outra surpreendente confirmação na passada semana. Com este cartaz se não é este ano que vou finalmente a Paredes de Coura alguém por favor me dê um par de estalos.

Slow J - Às Vezes (ft. Nerve)

“Não sei se estou a perder amor à vida ou ódio à morte, às vezes dói mas eu escondo, desde que eu aprendi que os homens fortes não choram nem na berma da ponte.”

Escolhas de Ricardo Almeida

KEN Mode - I'm Never Looking For You

O sistema nervoso em golpe de estado, ou mais um dia na sala de ensaios destes canadianos. É absolutamente imperativo voltar a ver KEN Mode ao vivo. Por favor, digam-me a que deus é que tenho de sacrificar uma capoeira inteira.

Idles – Mother

Esta semana descobri os Idles e o seu primeiro longa-duração, “Brutalism”. Imaginem uma mistura de Iceage, Sleaford Mods, Metz e Protomartyr com letras extremamente sarcásticas, cínicas, divertidas e, acima de tudo, actuais. Estou encantadíssimo e ainda não conseguir descolar do raio do disco.

Pere Ubu – Three Things

Daqueles nomes enigmáticos que sabes que tens de explorar, mas ainda não tiveste coragem para te atirares de cabeça à sua imponente discografia.

Mclusky – To Hell With Good Intentions

Outros que me deram a descobrir esta semana. Gostei da letra.

Braveyoung – You Pigs Should Find A God To Love

Olha, chegou a Primavera. Dizia certa vez um franco-argelino que havia encontrado o Verão no Inverno. Por aqui continua de chuva.

Escolhas de José Raposo

©Leigh Righton

Japandroids - Near To The Wild Heart Of Life

O regresso de um dos grandes duos desta vida, meia década depois de “Celebration Rock” – quem agora comemora somos nós, pois então. Continua tudo lá: refrão orelhudo, letras sobre a mortalidade e a mera ansiedade de existir. Produção e mistura mais limpas e algum receio de desgaste nos ossos, mas eles continuam a malhar forte e feio no éter – “She kissed me like a chorus / said Give ‘em hell for us”. Daqui por meses temos encontro marcado, toca a ensaiar os saltos e os punhos no ar, que ainda hoje (continuem a ler estas Músicas da Semana até ao fim, se fizerem favor) continuam a bastar uma guitarra, amplificadores, microfones e bateria para mandar a casa abaixo.

Depeche Mode - Enjoy the Silence

Continuamos nos refrões orelhudos, desta feita com “Enjoy the Silence”, clássico dos Depeche Mode de um álbum da mesma laia na sua discografia – “Violator”, de 1990. Na viragem da década, os Depeche Mode continuavam a escurecer a alma e a deixar crescer cabelo e comprimento das canções; saíram-se muito bem, quer no plano artístico quer no comercial: “Violator” foi uma bomba avassaladora nas vendas e tornou Gore, Gahan, Wilder e Fletcher em estrelas ainda maiores. O protagonista, qual eterno insatisfeito faustiano, nem nas praias do Algarve ou nos Alpes consegue ter algum sossego – para ouvir e ver o vídeo, que é da autoria de Anton Corbijn. E ver ao vivo em Algés, daqui por três meses e tal.

Iggy Pop - China Girl

Na semana passada lembrámos o aniversário de dois álbuns fundamentais – esta semana voltamos à carga com os quarenta anos de “The Idiot”, disco da temporada berlinense de Iggy Pop e David Bowie. O cruzamento de factores – ambiente da cidade (desde espiões a música, havia de tudo), tentativa de libertação dos vícios e exploração de sonoridades de ruptura com o passado de ambos e com a música em voga, o estertor do horrendo rock FM e progressivo de então – deu origem a uma tempestade perfeita. “China Girl” (aqui ganha o Tio Iggy) é um monumento algures entre o antigo Checkpoint Charlie (via confronto entre sonoridades) e Alexanderplatz, uma ressaca de cinzas emocionais igualmente dividida entre os sintetizadores e saxofone do saudoso Bowie, os berros stoogesianos do Tio Iggy e a bateria martelante do igualmente saudoso Dennis Davis. Reitera-se: é “A” versão da canção.

The Notorious B.I.G. - Juicy

Desta feita não é o álbum que faz anos, mas a data da morte do artista. Christopher George Latore Wallace deixou-nos há duas décadas (9/3/97), encerrando, na opinião deste opinador, a Era de Ouro do hip hop norte-americano. Com um sample de “Juicy Fruit” dos Mtume e um coro feminino (das Total) conforme uso da época, Biggy Smalls pega na sua história de vida (com alguma mitologia pelo meio, que afinal a sua casa de infância não tinha apenas um quarto, ao que consta), transforma-a em rimas e, num ápice, passa de colar posters de Heavy D para encher recintos, jogar Super Nintendo e ser finalmente alvo do interesse feminino, tudo regado a Moët et Chandon e um flow firme e poesia acessível mas de urgência e grandeza. Os chibos de ontem são os falsos amigos de agora – com ou sem sardinhas para o jantar. Ah, a fama.

Chuck Berry - You Never Can Tell

Tal como na semana passada, deixamos a obra mais importante para último. E qual é a importância de Chuck Berry? Pois bem, sem este pilar (piadas com perversões de Berry à parte) da música popular do século XX, o mais provável é que as quatro canções precedentes teriam existido. Se a letra é mais uma entre tantas da época sobre amor jovem (com o atrevido toque em francês), a composição, melodia e arranjos mantinham Chuck Berry como figura fundamental em 1964, ano em que a “concorrência” era já forte. Todos os ingredientes que o fizeram um monólito cultural estão presentes: bateria, guitarras, piano e saxofone, uma fluidez que até trinta anos depois fazia dançar Mia Wallace e Vincent Vega numa espelunca saudosista e uma editora basilar num dado género, a Chess – bem como produtores de excepção, os irmãos Leonard e Philip Chess. Não sendo dos primórdios do rock, certo é que é uma canção representativa da obra de Berry e perfeitamente enquadrável no alea jacta est musical de cinquentas e das seis (ou mais, provavelmente) décadas seguintes.


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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