MÚSICAS DA SEMANA

#225

com

Galo Cant'Às Duas

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© Joana Linhares

Escolhas de Galo Cant'Às Duas

Surma - Maasai (Gonçalo Alegre)

Conheci a Débora no festival TRC ZigurFest em finais de 2016, tocávamos no mesmo dia, Galo Cant’às Duas e Surma em zonas diferentes, e naturalmente nos cruzámos e reconhecemos, de fotos possivelmente e coisas da net . Teve tanto de mágico como de natural este “cruzamento”, a sua leveza, simpatia e bondade vive tanto na pessoa que ela é como na música que faz. O concerto no Teatro Ribeiro e Castro foi mágico como a Débora é magia. Permanece a magia.

Radiohead - Daydreaming (Gonçalo Alegre)

Uma boa parte da minha vida foi e continua a ser dedicada a Radiohead, haverá muitas coisas que não saberei nunca explicar desta minha relação com a banda. Fico no sonho de quem procura no sonho um dia melhor para melhor compreender este apego.

YES - The Solid Time Of Change (Hugo Cardoso)

Depois de um concerto, com um grupo de amigos, fechámo-nos numa garagem a ouvir discos variados. Uma partilha enorme de música aconteceu – até que alguém me apresentou este brilhante tema dos YES. Fiquei estupefacto com toda a agressividade, psicadelismo, sensibilidade que acabara de constatar. Os grooves de bateria criados pelo Bill Bruford abriu na minha mente um conjunto de emoções e possibilidades que ainda hoje as tento filtrar. As melodias e métricas da voz do Jon Anderson e o fraseado de sintetizadores de Rick Wakeman fizeram-me entrar num mundo nunca conhecido. O equilíbrio musical entre os 5 músicos é tão bem conseguido! Parece que tudo está onde devia estar, considero perfeito. Este tema/disco está gravado no meu coração e parte da minha sabedoria, criatividade, personalidade devo a ele.

Um disco gravado em Junho de 1972 e ainda hoje actual.

Tigran Hamasyan - Drip (Hugo Cardoso)

Tigran Hamsyan, um pianista Armeno que funde a tradição musical da Arménia com o Jazz Norte Americano. Esta fusão fez-me delirar – as poliritmias usadas, a louca improvisação, a forte secção rítmica, as vozes, as respirações… tudo factores que me inspiraram e fizeram com que trabalhasse a explorasse outros tipos de musicalidade no meu dia a dia. Quando conheci o disco ouvia-o todos os dias, e o incrível é que cada vez que ouço ainda consigo descobrir certos pormenores que estão presentes em toda a intensidade crescente. Este tema em específico parte de um motivo rítmico de piano para frases uníssunas e linhas de voz bem celestiais. Os compassos compostos são fundidos nos compassos simples com naturalidade, é como se fosse tudo bem simples. Torna-se difícil passar o que se ouve para palavras. Ouçam e falaremos mais tarde.

Patrick Watson - Step Out For a While (Banda)

Achámos interessante inserir um tema que ambos gostássemos. Curiosamente e surpreendente não foi difícil. Para além da voz mágica do Patrick Watson que nos transporta para bem longe, toda a banda tem igualmente essa capacidade. Este tema em particular ganha pela intensidade da harmonia e os grooves dentro e fora do tempo com a simplicidade característica destes músicos. Algo que gostamos de explorar no Galo Cant’Às Duas.

Escolhas de Vera Brito

Sufjan Stevens - Fourth of July

Carrie & Lowell fez dois anos. Foi para mim o álbum de 2015 e o sentimento avassalador ainda perdura quando me atrevo a ouvi-lo. Murros no estômago a cada música, beleza que fere, dor que transcende. Dificilmente Sufjan Stevens conseguirá fazer um álbum que supere este e a verdade é que não o precisa.

Kendrick Lamar - HUMBLE.

A internet tem andado à beira de um ataque de nervos com as pistas que Kendrick Lamar tem deixado para o seu álbum novo, que esperamos que saia já nesta sexta-feira. Um vídeo surreal acompanha esta HUMBLE. com K-Dot a dar cartas na pop e a deixar recados a muitos rappers por aí ou será apenas a Big Sean? Seja como for o que vem aí será massivo, porque entre álbuns ou lados b não há nada que Kendrick Lamar não faça com toque de Midas.

Broken Social Scene - Halfway Home

2017 está a ser também um ano de regressos das minhas bandas preferidas. Há poucos dias eram os Do Make Say Think e agora estes meninos.

Dave Matthews & Tim Reynolds - Dreamed I Killed God

A uma semana do que será um dos concertos do ano para mim, já comecei a desenhar setlists impossíveis na minha cabeça, como esta rara “Dreamed I Killed God”. Podia falar-vos de como a minha pancada pela Dave Matthews Band começou à conta não da banda mas do Live At Luther College, gravação acústica de Dave e Tim. A banda veio depois, assim como os seus concertos gloriosos em Lisboa, mas falta-me concretizar este acústico de um dos mais bonitos bromances da música.

Kevin Morby - All Of My Life

Baralhar, distribuir as cartas, jogar de novo e cometer todos os mesmos erros outra vez.

Escolhas de Christopher Monteiro

© Diana Lee Zadlo

Pallbearer – Thorns

Se puder deixar um riff falar por si, faço isso com este tema do novo álbum dos Pallbearer. Não me adianta muito estar aqui a gastar linhas quando posso deixar este riff justificar todas as repetidas audições que esta música merece.

Depeche Mode – Scum

Já são uma banda com um requisito muito baixo para me agradar. E sou dos que acha que não têm nenhuma fase fraca nem têm a idade a estorvar-lhes. Muito rapidamente rendido ao novo álbum de Depeche Mode. A escolha de Scum? Primeira que começou a tocar-se sozinha na minha cabeça.

Napalm Death – Greed Killing

Este fim-de-semana passou mais um Moita Metal Fest. Não fui. Continuo pobre. Não aninhei e deprimi por hábito. Nem sei se isso é bom ou mau.

Départe – Ruin

São recentes mas sinto que ainda deixei passar muito tempo até descobrir estes barulhentos. Não é coisa que entre a todos que apreciem do black metal mais atmosférico e temperado de sludge. Mas a estes não dá para se acusar de serem repetitivos ou saturados. A voz limpa não entra a todos. Mas encaixa perfeitamente. E Ruin, conclusão do disco, é um final caótico e belo.

Metallica – Am I Savage?

É fim-de-semana de Wrestlemania. Que ninguém me julgue.

Escolhas de Sèrgio Neves

© Phil Knott

Run The Jewels - Legend Has It

Pistola e punho. Haverá alguém com um flow tão puro e contagiante a fazer música actualmente com a facilidade com que o fazem os Run The Jewels? Como se os valores de produção e as letras aguçadas e fracturantes não fossem o suficiente para os elevar a um qualquer pódio, ainda nos deixam vídeos incríveis como o que faz regressar esta malha à lista de rodagens.

Syd - Smile More

A vocalista do excêntrico grupo de neoRnB The Internet, onde partilha direitos de composição com Matt Martians, saída do famoso colectivo de artistas de hip-hop Odd Future, de onde conhecemos também uns quaisquer Frank Ocean ou Earl Sweatshirt, ainda é um nome relativamente desconhecido na indústria por si só, mas que se mostra de forma impetuosa e clara com um fresquíssimo álbum de estreia e uma mão-cheia de saborosos singles.

Palo Sopraño - Igloo

E falando de frescura, e de álbuns que ainda agora saíram e já nos assolam o dia-a-dia, surge da mediana quotidiana esta pequena pérola de um empreendedor Ryan Pickard, um norte-americano perdido entre os acordes de surfista e os temas choninhas com que constrói o seu novo álbum.

Air - All I Need

Num qualquer passeio sob o sol da primavera, entrar numa loja de discos e dedilhar centenas de capas de vinil, entre elas um ou outro clássico obrigatório, e ainda assim passar pela colectânea dos vinte anos dos franceses e deixar nela o maior dos desejos. Vinte anos, e tudo o que precisamos é de um pouco de ar.

Charles Bradley - Changes

As mudanças tendem a ser boas. São períodos assustadores mas excitantes, e acima de tudo marcam a nossa capacidade para as concretizar, em vez de nos contentarmos com o que nos acontece. Mostra iniciativa e que estamos vivos, porque estar vivo é mudar. E isso é positivo, não importa o suor ou as lágrimas que possam daí advir.

Escolhas de Ricardo Almeida

© Zak Bratto

Protomartyr – Maidenhead

O post-punk a fugir para o indie dos Protomartyr foi uma das principais razões da minha estada no Porto aquando do NOS Primavera Sound 2016. Guitarradas incisivas e melodias sedutoras convidam a fingir que se dança. São os Protomartyr e são os maiores.

This Gift Is a Curse – XI: For I Am the Fire

Num misto de black metal, sludge e hardcore-punk os This Gift Is a Curse, com apenas dois discos, e sem darem demasiado nas vistas, são dos nomes mais sólidos e íntegros do panorama actual no que toca a música extrema. Foi pena só estarem presentes meia-dúzia de gatos-pingados quando os suecos passaram por Cascais e, com um aroma intenso a alcatrão líquido no ar, invocaram Swinelord, numa performance que pareceu ser mais do que um mero concerto.

Pink Turns Blue – Walking On Both Sides

Já não tinha a sensação de ser, claramente, a pessoa mais nova num evento há algum tempo. Foi na passada sexta-feira que os Pink Turns Blue animaram a Caixa Económica Operária ao ponto de haver quem tivesse aproveitado uma das músicas para jogar ao jogo das cadeiras. Recordou-se assim o post-punk Joy Divisionesco, enquanto esperamos pelo concerto do Chameleons Vox, a ter lugar lá para o fim deste mês.

Tim Hecker – Whitecaps of White Noise II

Por estes lados o interesse pela ambient não-choninhas é cada vez maior, e não há figura mais incontornável que o mestre Tim Hecker. Mais do que fazer-lhe a caminha e desejar uma boa noite, Hecker confronta o público, metendo-o em sentido com lufadas de fumo e distorção. Se Ravedeath 1972 é ou não o expoente máximo na discografia do canadiano pouco importa. É em Harmony In Ultraviolet que Hecker sente o solo do topo da montanha pela primeira vez, tratando-se de um culminar de tudo aquilo que o músico vinha a explorar e preparar desde que começou a produzir em nome próprio.

Björk – Hunter

Foi preciso chegarmos a 2017 para eu começar a ouvir Björk. Esta semana escutei o Homogetic várias vezes e ficou mais do que aprovado.


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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