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Para me ajudar a escolher, limitei as minhas músicas da semana a primeiras faixas de discos. A decisão do alinhamento final de qualquer gravação costuma ser complicada, e escolher a canção de abertura é dos momentos mais importantes desse processo. Como ouvinte, associo muito os discos de que gosto às canções com que abrem.
Os Deolinda são das minhas bandas predilectas, ao vivo e em disco. Esta canção é das coisas mais lindas que já ouvi, e de todas as primeiras músicas dos discos de Deolinda o “Bons Dias” é a de que gosto mais.
Um clássico a abrir um clássico. É capaz de ser a minha entrada favorita num disco, mesmo antes de entrar a voz do Lennon.
A primeira música num disco triplo (!) cheio de canções lindíssimas. Nos seus 6 minutos e 4 segundos vai-se revelando devagar.
Ouvi tanto este disco. Esta música não arranca logo, ouve-se um “clic” antes de começar que provavelmente é o da própria cassete no gravador. Essa entrada dá o mote para todo o Either/Or.
Uma abertura magnífica para um dos discos mais impossíveis de sempre.
Aguardava com alguma (bastante) expectativa o novo disco dos At The Drive-In. É verdade que não é tão bom quanto o Relationship of Command e, há que reconhecer, as expectativas são uma coisa lixada, principalmente se estamos a falar de um disco tão marcante quanto este o foi. Em cima disto tudo, foram dezassete os anos de espera para que isto acontecesse. Por isso, sim, in•ter a•li•a pode não estar a esse nível, mas mantém a bitola de qualidade lá bem em cima, o que por mim está óptimo.
x4.
Há um par de dias saiu igualmente o novo disco dos A Lot Like Birds. Infelizmente ainda não conseguir ouvir ainda o DIVISI com a atenção devida, mas esta For Shelley (Unheard) foi uma das que sobressaiu nas primeiras audições.
Nesta semana houve também tempo para retornar a um dos melhores discos do ano passado.
Falar de At The Drive-In é lembrar-me que os The Mars Volta também existiram e que o De-Loused in the Comatorium ainda é um disco do caraças.
Daquelas músicas que se estranham e depois se entranham até se tornarem queridas.
Daqueles artistas que se adoram à primeira audição e por onde se continua mês fora.
O homónimo da Joan Shelley saiu na passada sexta e será, com certeza, um dos mais bonitos deste ano.
Há músicas inevitáveis. Esta é daquelas que vai e vem com o tempo, sempre ali de alguma forma ou outra.
Se há músicas que estão sempre ali de alguma forma, há artistas que não nos deixam nunca. A Sharon Van Etten está e estará por cá durante muito tempo.
Em semana de homilia de Wovenhand no Porto é impossível passar ao lado das canções de David Eugene Edwards. O último disco, Star Treatment, não é uma das entradas mais relevantes na discografia dos norte-americanos que misturam alt-country e pós-punk, entre outros, mas ainda assim, esta Swaying Reed – magistralmente interpretada ao vivo – acaba por ser um destaque incontornável.
2017 é um ano especial. Esta música está – indiretamente – ligada a um acontecimento que faz deste um ano de celebração. Investiguem.
O disco de estreia – homónimo – de Kelly Lee Owens é uma das mais belas surpresas deste início de 2017. Pisando terrenos do house, tech-house e da eletrónica pop, esta galesa poderá vir a ser um caso sério na música mais mainstream. Enquanto isso não acontece deixem-se contagiar por este primeiro álbum. Esta Anxi tem a participação de Jenny Hval que passou por Portugal muito recentemente.
Wear Your Wounds é o projeto do semideus Jacob Bannon, que aqui se liberta do peso hardcore dos Converge para se dedicar a composições mais atmosféricas e mais expansivas sonicamente, sem nunca descurar o peso emocional que o caracteriza.
Death Peak ainda é um disco muito recente. Para não falarmos à toa, a sugestão que fica é do álbum anterior e tem um dos títulos mais pungentes de que há memória. Tenham cuidado e mantenham-se alerta.
Foi apenas há pouco tempo que me propus a descobrir as fantásticas coisas que se fizeram sob a alçada do synthpop. Estes ingleses, porventura mais conhecidos pela sua Enola Gay, guardam óptimos momentos no seu repertório: ouvimos Telegraph vinda do disco Dazzle Ships, de 1983. Pelos vistos, considerando o âmbito da sua carreira, consta que este disco terá sido uma espécie de suicídio comercial. Começa com uma peça que envolve vozes estrangeiras, orquestras triunfais e sinais sonoros; desemboca depois em Genetic Engineering, plástica de forma a fazer lembrar os Kraftwerk caso fossem um pouquinho mais humanos (mas, de resto, não fazem todos os sintetizadores lembrar os Kraftwerk?). Há faixas neste disco que se podem considerar experimentais, pelo menos no que refere à norma habitual destes grupos: ABC Auto-Industry, por exemplo, de uma suave melodia perpassada por sons de mecanismos e vozes desumanizadas, e ao longo do disco são amplamente recuperadas impressões em checo, sinais horários, cuja estéticaEsta Telegraph trouxe-me à memória uma associação curiosa: os The Drums, grupo que muitos encantou pela sua simplicidade no início desta década – parecem ambos comungar numa certa ingenuidade, embora estes OMD sejam, claro, bem mais interessantes. Ao jornal Guardian, disse Andy McCluskey sobre o disco: “We wanted to be ABBA and Stockhausen. The machinery, bones and humanity were juxtaposed.”. Está explicado!
José Cid reinterpretou este fantástico tema no seu mais recente disco, Menino Prodígio, e continua esteticamente relevante. Na sua versão original, a sua voz divide espaço e protagonismo com órgão e guitarra, e Cid canta meios caminhos de cumplicidade com quem o ouve. É uma das mais proeminentes manifestações de psicadelismo na música do Quarteto (e talvez de Portugal em geral?), lançada originalmente em 1969; e no clímax da canção, puxando pela força do pulmão, ouvimos “Livres! Livres”, como que um exercício de adivinhação, ou talvez de igual forma um grito de revolta. Há muitos momentos riquíssimos e relevantes no repertório do Quarteto, como em vários momentos da carreira de José Cid. Indubitavelmente, uma das vozes mais singulares do nosso património musical.
Um nome obscuro, talvez pelo parco catálogo editado, mas Vivien Goldman esteve várias vezes no sítio certo, à hora certa, e com as pessoas certas também. Launderette vem do seu EP Dirty Washing, e é uma curiosíssima amálgama entre o groove grave do dub, uma percussão extrovertida (e extraordinária!), e anárquicas guitarras que devem o modus operandi ao punk. A música, caso se revele tímida à primeira escuta, há-de revelar mais e mais de si em repetidas audições. Pena é que não haja muito mais além disto para ouvirmos de Vivien Goldman.
Reparemos que 20 Jazz Funk Greats, disco dos britânicos Throbbing Gristle, antecede o primeiro dos OMD em pelo menos um ano; Architecture & Morality é já de 1981. Quase tudo é levado a cabo por via electrónica, inserindo-se, por assim dizer, na mesma linguagem sonora que outros seus contemporâneos. Mas diziam coisas tão, tão diferentes! Consta que a mãe de um dos membros lhe disse, antes de começarem a gravar o novo disco, algo como “e se agora fizessem alguma coisa bonita, para variar?”. Ora, foi o mote para os TG escolherem o absurdo título do disco e tirarem uma cândida fotografia num pacato jardim britânico. Muitos ter-se-ão sentido defraudados quando julgaram o disco pela capa, digamos assim: isto não é jazz funk, essa perversa variação de muzak; e o jardim fotografado, onde os quatro aparecem sorridentes e quase pastorais, era tão-só uma falésia extremamente popular como destino de suicídio. Concluamos sem prejuízo que os ingleses tinham péssimo gosto e um humor execrável, mas que isso não nos afaste – ou, por outro lado, talvez aproxime ainda mais – do contacto com a música do disco. Hot On The Heels Of Love passará despercebido em danceterias mais edgy, dançável mas estranhamente opressiva (e assim se encaixa nos moldes do pós-punk também); a faixa que emula o nome do disco é igualmente desconcertante, podendo lembrar David Lynch no mais desconcertante e sem o apaziguamento redentor; What a Day e, sobretudo, Persuasion, servirá para repensarmos a companhia do disco. Escolhi Convincing People como possível ponto de partida. Podemos ficar ou ir embora, mas dificilmente esqueceremos o disco. E não tem mal nenhum.
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)