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A Cinemateca recebe na próxima semana o cineasta francês Gérard Courant, o Homem-Câmara, para cinco sessões na Sala Luís de Pina, sempre às 18:30. Conhecida figura do cinema independente, é certamente o realizador que mais explorou o formato Super-8, embora também tenha utilizado outros suportes, como a película em 16 e em 35 mm, o vídeo e o digital. A sua obra foi mostrada nos mais diversos países, não apenas em cinemas de arte e cinematecas, mas também nos Festivais de Avignon, Hyères e Cannes e em instituições como o Centro Pompidou. Recentemente, as Éditions Harmattan publicaram um importante duplo DVD Jean-Luc Godard par Gérard Courant e um livro de entrevistas será publicado este ano. O próprio Courant é autor de livros sobre Werner Schroeter e Philippe Garrel, assim como de Le Jardin des Origines e Baisers Décolorés.
Nascido em Lyon, que considera ser a verdadeira “ville Lumière”, pois foi lá que os irmãos que levavam este nome deram forma definitiva à invenção do cinema, Gérard Courant instalou-se em Paris aos 24 anos e começou a participar ativamente do intenso movimento do cinema independente ou experimental francês. Os seus primeiros trabalhos datam de 1970 e constituíram o começo do que veio a ser uma série de filmes, intitulados CARNETS FILMÉS, semelhantes ao diário de um escritor ou ao caderno de esboços de um pintor. Entre estes CARNETS, encontramos, por exemplo, um diálogo entre o cineasta Werner Schroeter e o filósofo Michel Foucault. Courant, que segundo o crítico Dominique Noguez “tem uma visão serial da vida”, compôs muitas séries de filmes, quase todas in progress: CINEMA (fachadas de cinemas onde passam os seus filmes), OS MEUS SÍTIOS DE HABITAÇÃO, DO MEU QUARTO DE HOTEL, travellings (FILMADOS A PARIR DO SEU CARRO), encenações da Paixão de Cristo. Também realizou longas-metragens de ficção, documentários e compressões de clássicos do cinema, como O ACOSSADO, NIAGARA eTEOREMA.
Gérard Courant é conhecido sobretudo como o realizador do “filme mais longo da história do cinema”, CINÉMATON, um work in progress em Super-8 iniciado em 1978 e que atualmente totaliza cento e noventa e oito horas. Os CINÉMATONS são retratos ou auto-retratos que obedecem de maneira estrita aos seguintes princípios formais: um plano fixo único, com a câmara num tripé, em grande plano sobre o rosto da pessoa filmada, sem som e uma duração igual à totalidade de uma bobine em Super-8, três minutos e vinte e cinco segundos, o que é muito tempo no cinema. Como observa o realizador: “Contrariamente ao vídeo, o Super-8 e o 16 mm eram caríssimos e não me permitiam errar. Tive de pensar tudo de antemão, a partir de textos que tinha escrito sobre Warhol ou Ackerman”. Gérard Courant aprova totalmente a intervenções do público durante as sessões do CINÉMATON: “Lembro-me de sessões que eram verdadeiros happenings”. Num artigo em “Art-Press”, Fabrice Revault d’Allones observou que “Gérard Courant não apenas tem ideias, mas tem coerência nas suas ideias. Nos CINÉMATONS, nas suas curtas e longas-metragens, desprende-se uma atitude coerente: a exploração da fronteira sempre aberta entre a imagem fixa e a imagem animada”.
Para esta breve retrospetiva em Lisboa, o próprio Gérard Courant organizou os cinco programas que a compõem: para abrir, um programa de CINÉMATONS de célebres cineastas, o primeiro dos quais é Manoel de Oliveira, seguido por quatro outros programas que reúnem um CINÉMATON (entre os quais os de Pedro Costa e Isabel Ruth) e uma longa-metragem. Gérard Courant estará presente em todas as sessões.