“Morte em Veneza” de Luchino Visconti no CCB

por Arte-Factos em 6 Janeiro, 2020 © Luchino Visconti

Morte em Veneza, o filme de Luchino Visconti de 1971, será exibido no Centro Cultural de Belém no próximo dia 26 de Janeiro, pelas 16h.

Baseado na obra homónima do escritor alemão Thomas Mann, Luchino Visconti filma a viagem a Veneza de Gustav Aschenbach (Dirk Bogarde), um compositor alemão que procura um refúgio para ultrapassar a crise pessoal e artística que o aflige.

É neste cenário que procura salvar alguma da sua sanidade e esquecer as memórias que o atormentam, nomeadamente as suas últimas aparições em público, pautadas pelo fracasso. No Grande Hotel onde se instala, porém, cruza-se com Tadzio (Björn Andresen), um jovem adolescente polaco de beleza andrógena, pelo qual desenvolve uma desconcertante atração. Apesar da epidemia de cólera que se abate sobre Veneza, Aschenbach permanece na cidade para admirar o jovem, embora com consequências trágicas. Tal como a epidemia de cólera que ameaça a cidade, esta atração cativa e consome o compositor, comprometendo tragicamente todos os seus ideais.

Visconti assume neste filme a difícil tarefa de traduzir em imagens mais um clássico inestimável da literatura, desta vez privilegiando o trabalho de experimentação cinematográfica, ao construir todo o filme em torno da sua composição estética, menos interessado no aspeto narrativo, reduzidos ao mínimo os diálogos. Daí resulta uma longa-metragem esteticamente primorosa, repleta de momentos de silêncio e contemplação, onde, tal como o protagonista, também Visconti parece perseguir os mais exímios ideais de beleza.

Poucas vezes uma cidade foi retratada de maneira tão sublime e Veneza é aqui filmada por Visconti que, com o diretor de fotografia Pasqualino De Santis, conseguiu criar uma atmosfera melancólica, decadentista e, simultaneamente, transcendental.

A mestria da câmara do realizador italiano levou a que muitos críticos considerassem que alguns dos planos do jovem Tadzio poderiam ser transpostos para um museu de arte renascentista. Este filme é também uma subtil homenagem a Gustav Mahler, o que explica a mais relevante alteração feita por Visconti ao livro original de Mann. Se no livro o protagonista é escritor, no filme do mestre italiano é compositor, e a própria caracterização de Dirk Bogarde é toda feita em invocação de Mahler.

Em pano de fundo, e indesligável do filme, o melancólico Adagietto da Quinta Sinfonia do compositor abre e encerra o filme e vai pontuando os ápices sentimentais ao longo da história, conferindo-lhe uma aura inigualável.

Visconti fez de Morte em Veneza uma obra propositadamente ambígua e filosófica que, no seu jogo entre temporalidades, procura explorar o tema da velhice e da aproximação da morte, associadas à busca incessante de um estado puro e indelével, que aqui é encarnado na beleza ideal e inacessível daquele jovem adolescente. Embora seja um dos filmes mais admirados do mestre italiano, Morte em Veneza foi também alvo de algumas críticas. Desde logo pela referida subversão do romance de Mann e ainda por parecer conferir um teor sexual à relação de Aschenbach com o jovem polaco. Visconti, segundo alguns detratores, ignorou as subtilezas do texto de Mann, que sugeria que Tadzio representava sim um ideal de beleza e não simplesmente um objeto de desejo.

Contudo, a crítica mais feroz veio daqueles que receberam com estranheza o movimento de Visconti no sentido de apresentar um cinema mais centrado na imagem e numa câmara-pincel. Porém, se há uma característica que faz de Visconti um realizador ímpar, é a sua capacidade de metamorfosear a sua técnica cinematográfica, do Neorrealismo de que é considerado um dos pais, ao cinema pleno de simbologia e domínio estético.

Não obstante, Morte em Veneza, amplamente premiado nos BAFTA e no Festival de Cannes, é hoje considerado unanimemente como o mais excecional filme de Visconti e uma das mais belas experiências cinematográficas alguma vez proporcionada.

 

Temporada de cinema do Centro Cultural de Belém 2019/2020
26 Janeiro 2020: Morte em Veneza (1971)
22 Março 2020: Rebel without a cause (1955)
3 Maio 2020: Vertigo – A mulher que viveu duas vezes (1958)
7 Junho 2020: A conquista do Oeste (1962)
20 Outubro 2019: Apocalypse Now (1979)
1 Novembro 2019: O resgate do Soldado Ryan (1998)
29 Dezembro 2019: My Fair Lady (1964)

Fonte: site oficial do CCB » aqui «


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Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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