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Deixou-nos ontem Merle Haggard, um dos baluartes da outlaw country a par de Johnny Cash, Willie Nelson ou Waylon Jennings, bem como da sonoridade de Bakersfield de Buck Owens e Wynn Stewart. Nasceu (e morreu) a 6 de Abril e cresceu e viveu na Califórnia, começando no pequeno crime logo na pré-adolescência, que nem um hustler de carreira. A música só viria depois de um começo de vida marcado pela morte prematura do pai e de uma prenda de um irmão, uma guitarra acústica.
Entre entradas e saídas da cadeia (incluindo uma estadia em San Quentin), empregos sem eira nem beira (desde coveiro a operário) e actuações em bares manhosos, construiu-se uma lenda que viria a revolucionar a country, em particular na década de sessenta. A estreia em disco aconteceu em 1963, mas o quarteto de I’m a Lonesome Fugitive, Branded Man, Sing Me Back Home e The Legend of Bonnie and Clyde (todos entre 1966 e 1968) é que viria a cimentar o lugar de Haggard no Olimpo da música popular norte-americana, ao ponto de as suas canções serem alvo de versões de bandas e artistas mais jovens, como os Byrds ou Joan Baez, mas também por veteranos como Dean Martin.
Uma composição sua baseada no povo ingénuo mas trabalhador e ordeiro, Okie From Muskogee, tornar-se-ia um hino anti-hippies, sendo até incluído em Platoon, de Oliver Stone (ainda que anacronisticamente, dado que foi editada em 1969 e o filme passa-se em 1967); se esta canção já tinha contribuído para a fama de Haggard como sendo de direita, The Fightin’ Side of Me ditou que a Maioria Silenciosa de Nixon, honesta, patriótica e com valores, teria aqui o seu cancioneiro. O povo de colarinho azul conservador norte-americano tinha aqui um dos seus pregoeiros e se Bob Dylan era, supostamente, a voz da geração mais nova e progressista, Haggard era a voz dos mais conservadores de todas as idades, pelo menos no que respeitasse à guerra do Vietname ou a valores tradicionais de trabalho e família, numa sociedade que tardou em perceber que a batalha de Huế não era como a de Okinawa.
Nas décadas seguintes, transformou-se numa instituição cultural dos Estados Unidos, inspirando personagens de filmes (o Mac Sledge de Robert Duvall em Tender Mercies), coleccionando colaborações (com Clint Eastwood e Willie Nelson, entre outros) e recebendo homenagens e honrarias – nos quais se incluem um perdão de Ronald Reagan em 1972 e um prémio de carreira do Centro Cultural Kennedy em 2010, com direito a elogio de Barack Obama. De caminho, andou em aventuras com a marijuana e a cocaína, contradizendo o que cantou em Okie From Muskogee e Fightin’ Side of Me – mas sempre na linha do que cantou em Mama Tried, a sua maior canção, recentemente seleccionada para o Arquivo Nacional de Gravações dos Estados Unidos, dada a sua importância artística.
Trilhou o seu próprio caminho na vida e na música, desde a luta contra a miséria até à construção do som de Bakersfield contra o som tradicional de Nashville. A sua Fender Telecaster calou-se, mas fica uma obra que merece retrospectiva, até porque se faz muita e boa country e folk por aí. Podemos até parafrasear dois dos grandes, Waylon Jennings e Hank Williams (sénior), perguntando-nos: are you sure Merle done it this way?
Como aqui na casa temos música e cinema para vos dar, aqui vos deixamos Merle Haggard cantando sobre Bonnie e Clyde, inspirado pelo filme homónimo de Arthur Penn.