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Costuma dizer-se que as primeiras impressões são aquelas que ficam e mais marcam. Não negamos esse facto, mas às vezes sabe bem deixar passar um tempo, absorver tudo o que temos a absorver de uma qualquer experiência e fazer um balanço.
No caso da edição deste ano do NOS Primavera Sound, ou aquilo a que carinhosamente podemos chamar de Team Meeting Arte-Factos, juntámos alguns dos nossos concertos preferidos para os recordar aqui.
Esta edição do Shellac Primavera Sound – agora de regresso ao seu habitat natural, o prado ex-ATP, após dois anos de exílio na tenda Pitchfork – ficou marcada pela ausência de dois clássicos absolutos. “The End of Radio” e “Prayer to God” podem ter ficado de fora da setlist deste ano, mas nunca falta material aos Shellac para nos trazerem o concerto mais animado do festival.
A começar e a acabar em “Wingwalker”, faixa ainda não editada em disco em que Albini imita um avião (“look at me, I’m a plane!”) e proclama que está do lado dos defensores da diversão. Não é mentira nenhuma. DSS
Não é que tenha sido apanhado desprevenido, porque não fui, mas já por aqui tinha falado das minhas dúvidas em como um concerto de Julien Baker resultaria num festival em que, convenhamos, não estava aparentemente a jogar na mesma liga de tudo o resto que apanhava aquela slot horária (Bon Iver e Swans).
E digo aparentemente agora porque feitas as contas a pequena Julien Baker foi enorme a encher um palco apenas com a sua presença, as duas guitarras que foi alternando entre si e a humildade e genuinidade ao alcance de poucos que coloca quer nas suas canções, quer no discurso entre elas.
E se aos repetidos “I love you” vindos do público foi respondendo sempre até começar a ficar sem jeito, preferiu sempre virar o discurso de “eu” para “nós”, para a defesa de direitos humanos e para um caminho de igualdade entre todos, numa manifestação clara do que é importante nesta vida. Talvez o Mundo não esteja perdido. HR
Algum tempo depois já é possível digerir a excitação de três dias de festival e perceber quais os concertos que ficaram gravados nos sentidos e servirão de memória futura deste NOS Primavera Sound.
Para mim ficarão sempre a alucinação colectiva de Flying Lotus, a matança de Death Grips e a adrenalina desgovernada de Skepta, esse londrino responsável por trazer o grime dos ghettos de Londres para os palcos do mundo, de que falo aqui. Os vídeos de actuações suas que já tinha espreitado pela internet deveriam ter-me servido de aviso que, talvez tentar ver Skepta nas primeiras filas não seria a melhor ideia.
Poucos segundos após começar o concerto fiz a regressão mais rápida de sempre para as filas de trás, atravessando a clareira do mosh pit, com o pensamento “estou velha para isto”. Se Bon Iver minutos antes me tinha arrancado vários bocejos, Skepta colocou-me em modo alerta ou, como o próprio se fartou de repetir ao público, “on your toes! on your toes!”. Velocidade máxima do início ao fim, um largar constante de bombas, “That’s Not Me”, “Numbers”, “No Security”, “Man”, “It Ain’t Safe” ou “Shutdown”, impossível escolher um ponto alto.
Um público electrizado por uma corrente de energia boa – é sempre mais fácil aceitar um encontrão ou outro quando este vem acompanhado de um sorriso genuíno de quem está a viver um dos melhores momentos da noite – e no final a certeza de ter assistido a um dos concertos mais vibrantes deste Primavera e sede de poder voltar a ver o londrino numa sala só sua por cá, mandar definitivamente a casa abaixo. VB
Ao último dia chegados, por entre as fotos-cliché das letras à entrada do recinto e as últimas sandes do Guedes, havia tempo para uma última grande carga (antes do after, pelo menos). A sequência Shellac-Death Grips-Japandroids-Aphex Twin prometia e o duo de Vancouver, herdeiro da melhor tradição punk da cidade (D.O.A. e Subhumans, os bons), chegou para partir o palco e ajudar-nos a esmurrar o ar.
Três álbuns dignos de louvores que provocaram as típicas olimpíadas de mosh pit e que encheram o éter de berraria dos monumentais refrões das suas canções; de caminho, ainda houve tempo para se filmar qualquer coisa para o videoclip de North East South West.
Nada como partilhar o campo de jogo com amigos que têm estes valores e que também ficam de cabelo molhado na casa que o céu (dos Japandroids) construiu, tenham os corações que idade tiverem, que deles brotarão sempre as fagulhas – agora poderemos ser maus e preocupados com a marte, mas já fomos bons e sonhámos. Já os Japandroids continuam enormes desde 2006, que com eles o futuro será sempre a ferro e fogo, com ou sem francesas, séqme. JR
O plano era ir ver Swans e aproveitar dois ou três nomes que tocassem no mesmo dia. No entanto o Porto é terra imprevisível e troca-me sempre as voltas. A carteira, essa, costuma queixar-se, mas nunca se arrepende. Foi pena ver a super-fofinha Angel Olsen a tocar no palco errado. Seguiram-se os Sleaford Mods a serem os Sleaford Mods, os Swans, enormes, claro, e um Nicolas Jaar a ser os Moderat da edição deste ano – leia-se surpreendeu. Aphex Twin proporcionou o maior espectáculo sonoro do festival – “gozou e desrespeitou” tudo e todos. No entanto quem levou a taça por estes lados foram mesmo dos Death Grips.
‘You’re fit ta learn the proper meaning of a beatdown‘, dizia ele. De facto, não há truque nestas palavras. Se no dia anterior foi Michael Gira quem, de braços abertos, se prestou a uma litania, o concerto de Death Grips foi uma de violenta descida aos mais viscerais confins da natureza humana. Zack Hill domina o kit como poucos, mas MC Ride é um animal feroz com os instintos à flor da pele. Tocar na penumbra só amplificou a natureza perturbada de Death Grips. Como se Sacramento fosse um cenário dantesco, MC Ride, flashback após flashback, purgou o pesadelo, “uuuugh!”. RA
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)