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Os olhos do mundo estavam postos em Lisboa e até o São Pedro deu tréguas durante o concerto, para que este corresse de feição. No final, depois de tantos pontos negativos que prometiam um desastre, este concerto que estava malfadado há muito tempo, superou as expectativas e conquistou fãs mais reticentes.
Primeiro foi a saída de Brian Johnson por tempo indeterminado, a substituição por Axl Rose, de forma a honrarem compromissos contratuais e que dividiu os fãs. Depois o aviso laranja de temporal que prometia estragar a festa e tornar o concerto potencialmente perigoso. Mas, tal como um presságio do tempo, depois da tempestade vem a bonança.
Nas páginas do evento da Everything is New, acumulavam-se os pedidos para que o concerto fosse cancelado ou se adiasse. Era referida várias vezes a Protecção Civil (a mesma recebeu inúmeras chamadas sobre o destino do concerto) e a incerteza multiplicava-se. No entanto, cedo se percebeu que a organização não estava disposta a ceder ao mau tempo, para revolta de muitos. Mas depois de tanta luta que foi feita para que a noite de ontem não acontecesse, houve uma reviravolta gigante em todos os aspectos e certamente que a maioria presente no recinto, não saiu defraudada.
Pelas 21h, a música de fundo dos Rolling Stones é interrompida para dar lugar a uma pequena intro e aqui os nossos corações começam a bater mais forte. Há imagens adornadas pelo riff de “Back in Black”, um meteorito chamado AC/DC que aterra em Algés sob uma chuva de fogo de artifício e ouvem-se os primeiros acordes de “Rock Or Bust”, o single do novo álbum com o mesmo nome. O “Yeah!” de Axl Rose, como quem diz, “Estou aqui!”, leva uma multidão ao rubro e desde ali se sente que a coisa vai correr bem. Axl está sentado no meio do palco e é aí que permanece durante o concerto, devido ao pé partido. Ainda assim, constata-se que se tem aquela energia sentado, quando se puder levantar não haverá palco que lhe chegue.
Segue-se “Shoot to Thrill”, uma faixa rápida e que coloca qualquer vocalista à prova. Axl não faz a coisa por menos e acerta todas as notas sem perder o fôlego, entoando-a brilhantemente. “Hell Ain’t a Bad Place to Be” é a seguinte e vão sendo tocadas as mais importantes do repertório da banda australiana, como “Dirty Deeds Done Dirt Cheap” ou “Rock ‘n Roll Damnation”, este último, um tema não tocado há muito tempo. “Back in Black”, como era de esperar, põe o público a cantar, cheio de entusiasmo.
“Thunderstruck” é um dos momentos da noite, talvez a faixa mais amada. Todas as alminhas saltam e gritam “Thunder!”, enquanto Angus Young brilha na sua arte. “Hells Bells” não lhe fica atrás, apesar de ter um tom mais morno, e há naquele momento um sino gigante no centro do palco, o que faz deste espectáculo todo um misto perfeito entre música e imagem e que é expectável de uma banda grande do rock. Em “Sin City”, Angus Young dá o show que o caracteriza, explorando a guitarra o melhor que pode. Desta vez, tira a gravata e toca com ela, arrancando ovação do público. Além de génio, é um entertainer.
“Shook Me All Night Long” é mais um momento alto, seguindo para “Whole Lotta Rosie”, com uma Rosie a mexer como pano de fundo do palco. “T.N.T.” é uma das mais conhecidas da fase Bon Scott, e claro, puxa de novo pela energia colectiva. “Let There Be Rock” termina o alinhamento principal em grande. Angus Young sobe a uma plataforma que o eleva e aí faz o solo triunfante, que termina já deitado no chão, sob uma chuva de confettis.
Mas ainda faltava o encore: “Highway to Hell” é um dos porta-estandartes da banda. Mais um momento de saltar em conjunto na lama, demonstrando a efusividade geral dos presentes, muitos a manter a energia mesmo depois de horas debaixo de chuva. Seguidamente, “Riff Raff” leva-nos a 1978, ao álbum Powerage, um hino ao rock. Axl Rose continua a cantar consistentemente e Angus Young salta e bate com os pés no chão, como já lhe é característico. A mais arrastada “For Those About to Rock (We Salute You)” é a escolhida para terminar com chave de ouro e tanto banda e público tinham entusiasmo de sobra para ficar mais umas horas. O concerto termina em formato glorioso com fogo de artifício, celebrando a vitória.
Os agoiros de que correria mal eram mais que muitos. Aliás, no fundo todos sabíamos que isso podia acontecer. Este iria ser um concerto histórico, para o bem ou para o mal. Muitos continuarão a criticar a escolha do actual frontman da banda, mas é inegável que Axl Rose está na sua melhor forma em largos anos e se portou à altura, respeitando todo o legado dos AC/DC e fazendo-lhe justiça. Depois de fases terríveis, conseguiu recuperar a voz e ao vivo atinge todas as notas, durante umas boas duas horas, com a mesma garra. Por isso, e pela atitude irrepreensível, tem que se lhe algum mérito. O único senão foi o azar do metatarso partido, que o obriga a permanecer sentado durante os concertos (como já se tinha visto, inclusive, no concerto de Guns ‘N Roses no Festival Coachella, em Abril). Ainda assim, vê-se que o vocalista está mortinho para se levantar e correr pelo palco fora. Sentado, faz o que pode. E já é bastante.
Os AC/DC já tiveram outros vocalistas para além de Brian Johnson, mas este esteve 36 anos na voz e é natural que os cépticos continuem a recusar dar uma oportunidade a Axl Rose e afirmem que a banda acabou. Se fosse outro vocalista, a história seria a mesma. No entanto, e à semelhança do passado, ontem soubémos que os AC/DC não morreram.