Reportagem


Alice Phoebe Lou

Dotes de crooner num lounge

Praia Fluvial do Taboão

17/08/2019


© Fotografia via Wikipedia, Alice Phoebe Lou at Rudolstadt-Festival 2019

Alice Phoebe Lou (nascida Matthew) veio das redondezas da Cidade do Cabo mais a sua banda de folk roqueira, que esteve ausente na actuação de 2018 no Festival Para Gente Sentada. Veio ainda álbum novo, Paper Castles (2019, edição da Autora). Afinal, não foram apenas os Kokoko! os únicos representantes de África nesta edição. (reportagem aqui)

Arranque atribulado, com problemas no som do microfone (volume quase no zero, amigos?) dos quais Alice só se apercebeu já tarde, perfazendo o primeiro minuto de concerto em modo “caverna”. Something Holy é assim para o autobiográfica: a letra a deixar entender a adolescência passada na Europa em perroflautismos e danças do fogo, os gestos expressivos de quem já viu algum Mundo e muita gente e que está à vontade, mas que quer alguém só para si, alguém que lhe faça explodir o peito de satisfação – tudo isto numa métrica fluída e agradável ao ouvido.

Se no dia anterir os Deerhunter passaram pelo festival (reportagem aqui), hoje temos uma Galaxies que poderia ter sido escrita por eles; Alice toca guitarra, gesticula e deixa a voz ser guiada pela letra e pela alma, devidamente acompanhada por secção de ritmo e teclas que doura a textura da canção. Parece uma Rapunzel da folk, de risinhos e gestos a quem os ares de Coura fizeram bem.

Adverte que está doente da garganta, mas que “nos sente à grande” e que promete dar tudo. Deve ser uma perfeccionista, porque pouca nódoa na voz se ouve, quiçá uma prova de força de Alice Phoebe Lou. De fragilidade só a da infância, recordada numa doce Fynbos, planta autóctone da África do Sul, presente nas brincadeiras de criança da cantautora, numa letra que chega ao pormenor de mencionar joelhos esfolados e de dormir enroscada na mãe enquanto esta lhe contava contos de fadas.

Mesmo em toda a sua juventude, Alice já vai no terceiro disco, tendo recuado a 2016 para um destaque do concerto, Girl On An Island. Ilha metafórica e real, temática com correlação com a canção seguinte: Nostalgia.

A exploração do corpo, da mente e da atracção entre pessoas é tema recorrente na música de Alice, não sendo somente chonice típica de cantautor. E, bem, também houve tempo para uma versão de Want Me de Puma Blue, mostrando dotes de crooner num lounge. Prova superada.


sobre o autor

José V. Raposo

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