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Nos trinta minutos que antecederam o concerto de Bad Gyal, o palco secundário de O Son do Camiño tornou-se um espaço perigosamente sufocante, ainda que inserido num verdejante parque às portas de Santiago de Compostela. A corrente de público que deslizou do palco principal para o pequeno espaço na lateral, aguçou a curiosidade e obrigou-me a tomar lugar. Em 2018, Bad Gyal actuou no NOS Primavera Sound e na programação estival do Theatro Circo de Braga, desta vez eu não iria perder o fenómeno.
Jovens, muitos e muito jovens, que pareciam vestir o catálogo da ASOS da cabeça aos pés. Uma explosão de cores, lycra, glitter, sapatilhas brancas e cabelos entrançados aguardavam a catalã Alba Farelo, de 22 anos. «Young people feel really represented by reggaeton» declarou Bad Gyal em entrevista ao The Guardian há um ano.
«Reina del perreo melancólico», escreveu alguém sobre o seu som que mistura reggaeton, electrónica seca e melancólica, dancehall digital, memórias de carrinhos de choque, orgulho do seu idioma e dialecto, puxando ao público europeu e latino. Se adicionássemos a esta fórmula umas gotas de flamenco e herança cultural teríamos quem? Pois claro, Rosalía em 2019 e em plena conquista mundial com os hits “Con Altura” e “Aute Cuture”.
Mas há mais que Bad Gyal partilha com a nova estrela da pop global: o produtor El Guincho (esse mesmo, o do Milhões de Festa) e os ninjas do visual CANADA. Uma equipa de sonho, obreiros (ou arquitectos?) que trabalharam pela atenção do público mainstream e massificado para o que de melhor se faz nos bairros periféricos das cidades espanholas.
Mas voltando ao concerto n’O Son do Camiño. Eis que o nome Bad Gyal brilha no ecrã e ouve-se electrónica que deixa o sangue a fervilhar. O público aplaude, grita, assobia, delira com a entrada da miúda loira, franzina, de calção curto, que se faz acompanhar de umas cinco ou seis bailarinas. E de um auto-tune em modo overdose. O sol ainda estava alto, apesar de já passarem das 22h. A frente de palco parecia uma rave digna de Madchester ou, sei lá, da Ilha da MTV.
O delírio de estímulos e o desconhecimento da sua discografia impossibilitam-me de identificar o que estava a ouvir, ou de sequer distinguir os temas. Certo, certo, é que Bad Gyal desfez o preconceito: achava eu que era apenas uma Rosalía com orçamento local, mas deparei-me com uma estrela de seu direito. É impossível não comparar, apesar de Bad Gyal ter afirmado este seu jeito de fazer música bem antes de a nova diva ter editado o disco de estreia “Los Ángeles” com o virtuoso produtor Raul Refree.
Bad Gyal é uma true original, emergiu do novo som e da contra-cultura que as comunidades suburbanas de Madrid e Barcelona anunciavam em meados desta década.
Em Santiago de Compostela deu mais que um concerto, deu-se a si e entregou-se ao público, que dançou sem deixar um centímetro de relvado à vista, numa festa a que só faltou piscina, mas que poderia estar a acontecer num parque de estacionamento e com som a sair do auto-rádio.