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Os black midi habitam Londres contemporânea e fazem parte da onda de desconstrução do que quer que passe por rock alternativo por estes dias. Já tinham estado em Portugal (no Mucho Flow 2018) e já os vimos na Holanda (e por cá passarão no próximo mês de Setembro, na ZDB), mas a verdadeira mostra seria esta.
Com o ainda quente disco de estreia, Schlagenheim (2019, Rough Trade), à mercê do escrutínio geral, copiaram os colegas Shame em 2018 e usaram EDM como intro, nem que fosse para quebrar o gelo. Ou então porque são putos que mal têm vinte anos e, como tal, imbuídos da tesão de mijo do secretismo das letras e da falta de comunicação com toda a gente – mas abriram uma excepção e falaram connosco, dias antes do concerto Courense (ler aqui), porém.
Não se fizeram rogados logo em Near DT, MI, canção de paradoxal histrionia quase desprovida de emoção, só mesmo um cheirinho do que aí viria. “Find the water” (estás quase ao lado dela, rapaz) repetida na letra e um rasgão de guitarras de Geordie Greep e Matt Kwasniewski-Kelvin dão o mote do desconstrutivismo musical dos black midi, em primeira análise um paralelo à instabilidade política corrente do Reino Unido do Brexit.
Ao som dos black midi assenta que nem uma luva a expressão “guitarras angulares”, mas por acerto e respeito e não porque são mais um amontoado de carbono a tocar indie genérico e formulaico. Desde a última vez que os vimos cresceram ao vivo e o próprio álbum respira em palco.
Para tal, bastou 953, para nós a melhor canção do quarteto londrino. Greep displicente rodopia em palco antes de dar uso a uma voz esganiçada à moda dos Devo e a banda a lançar-se a um furioso estampido que colocou tudo no sítio no palco Vodafone FM: pit invejável e uma barreira de som que nos fez lembrar os Iceage ali mesmo, em 2013. A petulância é a mesma e as malhas são igualmente tocadas no volume onze.
Os black midi são uma banda inteligente na gestão das influências e pelo que se vê e ouve vão beber a duas fontes aparentemente inconciliáveis: o prog rock dos King Crimson e o post-punk sujo e experimental dos Flipper. As guitarras de Greep e Kwasniewski-Kelvin ora se complementam, ora batalham entre si e a bateria de Morgan Simpson até pode estar ao canto do palco mas musicalmente está ao centro da formatura, é uma chaveta bombástica.
O single de estreia, bmbmbm, é um manifesto tácito contra o cinismo do indie, substituindo-se este pelo dadaísmo igualmente cínico dos black midi. Greep evoca Mark E. Smith (segunda referência aos The Fall no festival) e torna-se num mensageiro contra os sacerdotes do dogmatismo indie ou, mais concretamente, dos idiotas da cena que acham que o Mundo (ou do Universo, dependendo do palco em que toquem) gira à sua volta.
Tudo isto é subversão musical, o género de banda da qual queremos mais novidades quanto antes. Quase nada soa como eles e aproveite-se, que Schlagenheim poderá ser o início de uma grande carreira ou a prova de que são uma fraude com sorte na estreia. Dito isto, poderá também ser um capítulo irrepetível, tal como o concerto foi um dos melhores da edição.