Reportagem


Bloc Party

"Silent Alarm" ainda ecoa perfeição ao vivo

O Son do Camiño, Santiago de Compostela

14/06/2019


© O Son do Camiño 2019

“Silent Alarm” é um dos mais emblemáticos discos da carreira dos Bloc Party. Longa duração de estreia dos britânicos, foi editado em 2005 com 13 faixas que se encadeiam na perfeição, de guitarras e batidas fluídas que nos agitam e fizeram acreditar nesta nova vaga de rock da ilha.

A voz quente de Kele Okereke observa a vida quotidiana, na perspectiva existencialista de quem está a entrar na idade adulta. De certa maneira, um disco coming of age, em que contrastam o tom enérgico do sintetizador com o derrotismo de letras como «This modern love wastes me» ou «Turning away from the light / Becoming adult».

Do início ao fim, um disco coeso, coerente, impactante. E daí a sua importância na carreira dos Bloc Party: a magia não se repetiu, sobrou a capacidade de produzir singles orelhudos, mas sem o mesmo valor de “Silent Alarm” como um todo.

No início de 2018 anunciaram tour europeia – que já alargou fronteiras – em que tocariam “Silent Alarm” na íntegra. Portugal não entrou na agenda.

Os Bloc Party actuaram no segundo dia da segunda edição do festival O Son do Camiño, em Santiago de Compostela, para um público que talvez não fosse o seu habitual… A diversidade do cartaz – na mesma noite actuaram Rosalía (que por cá passou pelo NOS Primavera Sound) e Black Eyed Peas – justifica a multiplicidade de públicos no anfiteatro ao ar livre do Monte do Gozo: miúdos que teriam a mesma idade que “Silent Alarm”, graúdos que reviveram todas as emoções que Kele imprimiu nos nossos ouvidos, malta que nem sabia que toda aquela música era dos mesmos intérpretes.

A banda já não é bem a mesma, baixista e baterista foram renovados. E Kele não esconde o tempo que já passou nem que a carreira dos Bloc Party ficou um pouco aquém do que muitos anteciparam, subindo a palco num evidente estado pachorrento mas competente. De calça de fato-de-treino e camisa havaiana, um outfit que suspirava «whatever…», levou o público a bom porto, apesar de tudo.

Todos vibraram com “This Modern Love” e “Like Eating Glass” como há 14 anos. «Are you hoping for a miracle?», pergunta Kele em “Helicopter”. O milagre chegou com “Two More Years”, aquela que é ainda uma das mais emotivas composições da música moderna. Rostos embelezados por glitter sorriram durante todo o concerto, braços no ar, ritmo galopante e apoteótico encerramento de concerto quando o céu se pintou de confétis brancos.

«Mas ainda temos mais canções», disse Kele, desafiando o público a ouvir os hits que vieram depois de “Silent Alarm”. A batida xamânica de “The Prayer”, a inspiração robótica de “Flux” e as boas vibrações de “Ratchet” para fechar. Que pena não terem encerrado com “Ion Square” do disco “Intimacy”, mas fica o desejo lançado para o universo.

O concerto foi, acima de tudo, uma nostálgica viagem ao passado recente. Palco forrado com a capa do disco, aquela paisagem serena e desprovida, neve alva e árvores despidas, o sentimento de que há sempre um recomeço a caminho – uma imagem que parece ter sido criada para aquela finalidade. “Silent Alarm” é um disco intemporal e transversal, capaz de criar raízes em qualquer coração.

 

SETLIST

Compliments
Plans
Luno
So Here We Are
Price of Gasoline
The Pioneers
This Modern Love
She’s Hearing Voices
Blue Light
Banquet
Positive Tension
Helicopter
Like Eating Glass
Two More Years
The Prayer
Flux
Ratchet


sobre o autor

Isabel Leirós

"Oh, there is thunder in our hearts" (Ver mais artigos)

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