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A nostalgia pelos anos 90 é oficial e o concerto que os Bush deram na passada quarta-feira, no Coliseu dos Recreios em Lisboa, levou a maioria dos presentes a reviver uma década que, avaliando a média de idades, terá atravessado a rebelde adolescência e os sonhos juvenis de cada um.
Nesta sua segunda vida, os Bush sabem bem que são ainda as músicas dessa época dourada que o seu público procura, e só do álbum estreia Sixteen Stone, de 1994, ouvimos seis faixas clássicas, embora o mote desta digressão fosse o ainda recente Black and White Rainbows, editado em Março, que passou algo despercebido como praticamente tudo o que a banda tem lançado desde o seu regresso, em 2010.
Onde encaixam os Bush em 2017 é uma questão que nos assalta a mente várias vezes durante o concerto. Não escondemos que sentimos falta da inspiração da guitarra de Nigel Pulsford ou da solidez do baixo de Dave Parsons, por mais que Chris Traynor e Corey Britz façam um trabalho competente. Sabemos também que a premissa que levou os rapazes de Londres ao topo das tabelas musicais e a arenas lotadas, quando o grunge respirava em toda a sua força, é agora coisa do passado. Também já ninguém recorda muito bem as vozes agitadas que os acusavam de serem uma versão pop barata dos Nirvana, avistámos até na plateia uma ou outra t-shirt da banda de Kurt Cobain, tréguas feitas.
Quem são então os Bush nos dias de hoje e para onde vão? Honestamente parece-nos que é uma questão que se anula quando à nossa volta caras felizes exultam a cada música. Ou quando todos querem tocar em Gavin Rossdale a cada vez que desce ao público e segui-lo quando atravessa as bancadas e a plateia, do Coliseu quase lotado, para tomar o pulso aos seus fãs, beber uma cerveja pelo caminho e pular com eles na euforia de “Little Things”.
Aos seus 51 anos, Gavin Rossdale tem uma energia invejável e conserva ainda aquela rouquidão reconfortante da sua voz quente, que não acusa qualquer cansaço neste final de digressão com fecho em Lisboa. O sempre carismático vocalista continua a arrancar muitos suspiros por entre a plateia, sobretudo na ala feminina. A sua postura é no entanto algo contida no arrebatamento, até mesmo quando se arrasta pelo palco, deixando um rasto de suor, nos versos doridos “the things we do, to the people that we love”. A música dos Bush tem aliás essa mesma característica, parece estar sempre a um passo da explosão e só na ansiada “Machine Head” vimos despontar mais à frente um tímido moshpit.
Contenção é palavra que não serve aos RavenEye – fazemos aqui um parêntesis para falar dos rapazes que acompanharam os Bush nesta digressão. Se ao início nos pareceu algo exagerado que apenas à segunda música Oli Brown já tivesse conseguido: descer à plateia, regressar ao palco com uma cambalhota acrobática, saltar sobre o baixista, subir à bateria e despir alguma roupa, a verdade é que o entusiasmo destes rapazes de terras de sua majestade compensou. Acordaram um coliseu ainda a meio gás e ninguém lhes levaria a mal se ficassem para mais um par de músicas.
Instalaram o ambiente perfeito para que os Bush nos fizessem recuar a essa ternura dos 90, onde a música carregava consigo todos os nossos sonhos e desilusões, e a internet ainda não nos tinha roubado esta sensação de viver o momento sem ser através da lente da câmara.
Uma noite de memórias ainda com uma bonita cover para “The One I Love” dos R.E.M., um apelo à união antes de “This Is War” e um emotivo agradecimento à crew que subiu toda ao palco para um aplauso. A despedida fez-se com “Glycerine” e “Comedown”, com Gavin a agradecer mais uma vez o amor recebido do público português. “Every time we come here you treat us so good, so good” e assim o será por todas as vidas que os Bush decidirem ter.