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Confessamos que nos dias que antecederam a vinda dos Bush a Portugal não estávamos exactamente em polvorosa para a actuação dos britânicos que estiveram pela última vez por terras lusas no ano de 2002 em Vilar de Mouros. Concerto esse que marcaria, o que Gavin Rossdale eufemizou no Coliseu dos Recreios como, “uma pequena pausa”.
Ao que parece lançaram um álbum, “The Sea Of Memories”, e o alarido foi tanto ou tão pouco que por cá quase não se deu por isso. Mas ele aí está, apegado às sonoridades de Sixteen Stone e Razorblade Suitcase e a marcar presença nas performances ao vivo. Por boas razões, diga-se.
Então quais as razões para a falta de entusiasmo?
Bem, era com muita apreensão que indagávamos o quão bem teriam as canções, que fizeram do grupo um sucesso comercial nos anos 90, envelhecido. Como podia uma banda que lançou o seu primeiro álbum no limbo entre o grunge e o post-grunge manter-se actual e aliciante em 2012 era uma dúvida justificada.
Perante um Coliseu dos Recreios cheio (!) a dúvida não tardou a ser esclarecida. Ainda não estávamos em cima da hora prevista – e quantas vezes é que isto acontece? – os Bush surgem em palco ao som de “Machinehead” que prova que um bom riff, quando o é, é intemporal.
Do novo álbum, faz-se ouvir de seguida “All My Life”. Esta, “The Sound of Winter”, “The Heart of the Matter”, “Stand Up” e “The Afterlife são, de resto, as faixas que encontraram o seu espaço numa setlist dedicada aos êxitos pré-Golden State, onde nem uma música do penúltimo registo da banda se ouviu.
Bem enquadrados com os demais temas, mostraram-nos que os Bush não estão só entregues aos preciosismos da nostalgia e do saudosismo e, se não soubéssemos, diríamos que poderiam ter sido feitos no período áureo da banda.
Quantos aos êxitos que granjearam uma base sólida de fãs em Portugal, esses, ao contrário das camisolas de flanela de outros pretéritos, escaparam ilesos ao anacronismo dos tempos e soam hoje mais pujantes do que desconfio alguma vez terão soado. Seria fácil atribuir o sucesso em palco dos Bush aos peterpanismos de quem os acompanhava na década de 90, mas uma vintena de anos volvida desde a sua formação os Bush não são, nem de perto, uma banda de tributo a eles mesmos.
“The Chemicals Between Us” e “Everything Zen” são hoje, mais que nunca, colossos portentosos capazes de nos deixar por terra no impacto. “Swallowed”, na sua lógica à Pixies de versos calmos/refrães pujantes, não se deixa ficar atrás e contou com, o que foi à altura, o maior coro que se ouviu no Coliseu.
Gavin Rossdale, incontornável frontman, é possivelmente o homem mais irrequieto a ter alguma vez pisado um palco. É de ficar sem fôlego só de ver este homem nos seus 40 a atentar a proeza da omnipresença. Nem ficando no mesmo sítio se resigna a ficar quieto, desafiando constantemente a gravidade (a propósito disso, nota 7 de 10 para o pseudo moonwalk em Alien, não está pior).
Diga-se que não foi nem por uma nem por duas vezes que veio a público. Primeiro em “ The Chemichals Between Us”, haveria de se juntar ao seu público uma última vez em “The Afterlife” correndo Coliseu de um lado ao outro abraçando quem estivesse ali por perto e aceitando um gole de cerveja antes de voltar a palco.
“Little Things”, essa alternativa não muito subtil à “Smells Like Teen Spirit”, é entoada de fio a pavio pela plateia que depois de um encontro imediato de terceiro grau com Rossdale não podia estar mais extasiada. A saída para encore é então colorida com “olés”, cântico cuja onomatopeia me falha, e não demorou muito que os Bush voltassem a palco.
Afastando-se por momentos do seu reportório, trouxeram a Lisboa Pink Floyd e Beatles e não se ousa dizer clichés sobre a qualidade dos originais de “Breathe”e “Come Together”. Esta última que já não soava assim tão bem desde que os Soundgarden lhe deram outra roupagem. Folgo em saber que no Coliseu ninguém foi apanhado de surpresa por letras desconhecidas.
Por esta altura sentia-se o fim próximo. Gavin dirige-se à sala e relembra a sua última passagem por Portugal, não acreditando que só ao fim de 10 anos é que voltava a actuar para o que considerou, durante o concerto, o melhor público do mundo. Prometeu que os Bush voltariam já para o ano e, sozinho em palco fez soar os acordes de Glycerine.
Nunca hei-de entender o fascínio de Glycerine, a que não consigo ser imune. Aquela sequência mais que batida de powerchords, que nas mãos de Rossdale soa inconfundível, tinha tudo para ser só mais uma, mas que se tornou no hino maior dos Bush. No coliseu, com um twist final bem recebido, foi de longe o momento mais cantado por todos os presentes.
“Comedown” acabaria por ser o ponto final de uma actuação que, sejamos honestos, ninguém acreditaria que viesse a ser tão boa. Aliás, suspeito que num futuro muito próximo vá ser difícil para os presentes explicarem a quem não esteve lá que “Bush no Coliseu dos Recreios” foi dos melhores concertos do ano. Será o nosso pequeno segredo.