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Depois de uma passagem esgotada pela Casa da Música na noite anterior, anteontem foi a vez de Lisboa receber o cantor e compositor irlandês, Damien Rice. O cantor já tinha estado em Portugal anteriormente, mas nunca em nome próprio. Abriu para os LAMB em 2003 e no ano passado passou pelo NOS Primavera Sound. Desta vez, as atenções foram exclusivas para ele e percebe-se que sempre teve o seu público por cá. Na bagagem trouxe o mais recente disco, My Favourite Faded Fantasy, de 2014, trabalho que demorou 8 anos a sair do forno e resultado de uma grande viagem introspectiva.
Pelas 21h já a islandesa Gyda Valtysdottir ou GYÐA, se fazia ouvir pelas entranhas do Coliseu. Envergando um vestido fluído e de semblante etéreo, era a única no palco, acompanhada de um violoncelo. A luz, miudinha, focava-se na sua figura. Com um timbre doce, faz lembrar a sua conterrânea Björk. Ao se dirigir ao público, o seu trato também era suave e até algo envergonhado. Contou-nos que iria tocar uma música escrita pelo seu companheiro na música, que naquela noite se tornaria pai, motivo para não estar presente. Por esta altura os presentes ainda tomavam os seus lugares, mas isso não impediu que se fizesse um silêncio sepulcral e atento a cada canção da artista islandesa. A última, um instrumental de violoncelo, arrancou aplausos vigorosos do público. Uma meia hora em que mostrou o que vale e seguramente uma novidade bem aceite.
Meia hora depois, já com um Coliseu repleto e uma plateia sentada, o público é imperativo e após passarem as 22h, Damien Rice é chamado com aplausos. “Take your seats, if you have seats.”, diz, num primeiro contacto com os lisboetas. Lança-se à guitarra e atira “My Favourite Faded Fantasy”, perfeitamente ouvida e num ambiente acústico que lhe assenta como uma luva, não estivéssemos nós numa das melhores salas de espectáculos da capital. Os olhares atentos aprofundam-se e a atenção está toda concentrada no palco. A faixa vai crescendo e passa de um ambiente de serenidade para uma completa apoteose, acompanhada de luzes intermitentes. No final, são estrondosas as palmas contidas até então.
Sem pausas, começa “9 Crimes”, cujo original conta com a participação de Lisa Hannigan. A faixa, com um tom fúnebre, é capaz de levar às lágrimas. De novo, explode em turbulência. Já a que lhe segue,“Delicate”, não traz tanto peso emocional e acalma as hostes.
Com um recinto tão silencioso, inevitavelmente há quem tente falar ao cantor. Ouve-se: “Hello again!”, ao que ele responde, “Again? But it’s my first time here. Oh you were in Porto!”. Diz também que espera no dia de folga, conseguir ver alguma coisa de Lisboa.
Toca “The Greatest Bastard” e em “Cheers Darlin’”, que é uma perfeita “break-up song” e homenagem aos corações partidos, faz uma espécie de performance, sentado com uma pequena mesa em que finge embebedar-se. No intervalo entre canções, o público divide-se entre aqueles que atiram os nomes das suas faixas favoritas e aqueles que atiram com um “Shhhhh!”. A seguir vem “Amie”, do primeiro álbum do artista, O, e também o mais tocado nesta noite. No que toca a alinhamento, o concerto foi equilibrado, percorrendo os três álbuns.
Ainda numa troca de diálogos com o público, um espectador pergunta-lhe se pode cantar com ele e é bem recebido no palco. Juntos cantam “Colour Me In”, numa colaboração inusitada que agradou à assistência. Na canção seguinte, Damien faz uma introdução à mesma com a explicação de que se trata de fazermos aquilo que amamos em vez de esperarmos e deixarmos para mais tarde. Fala de “Long Long Way”, do álbum mais recente. A luz sobe gradualmente e vamos despertando para a toada épica com que se finaliza a canção.
“Cannonball” não podia faltar e arranca a euforia do público. Nesta, a luz do recinto apaga-se por completo e Damien canta à distância do microfone. A luz vai subindo e do palco sai uma camada de fundo densa, que como que uma avalanche, engole a plateia. O músico improvisa e vai gravando instrumentos, numa de one man show. No final, abandona o palco enquanto a música ainda continua a tocar.
Para o final, fica aquela que todos reconhecem, “The Blower’s Daughter”, canção que inspirou a versão de Ana Carolina e Seu Jorge, “É Isso Aí”. O público canta, mas respeitoso, sem nunca lhe passar por cima da voz. Para a última, convida GYÐA e ambos interpretam “Volcano” acompanhada por coros e palmas de um público sempre atento e participativo.