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O EA Live serviu na passada quarta-feira no Coliseu dos Recreios em Lisboa 8 horas de música portuguesa para consumir sem moderação. Não teríamos também recusado uma prova do bom vinho alentejano para acompanhar, mas a variada selecção musical deixou-nos saciados.
Às 18h, quando Allen Halloween e a sua Kriminal Familía abriram as hostilidades, ainda era possível circular com facilidade por todo o coliseu, muita gente ainda estaria a sair do trabalho ou a fazer contas em como jantar para aguentar esta maratona musical. Pouco público mas de olhos e ouvidos bem atentos ao rapper de Odivelas, que não pareceu minimamente incomodado com esta plateia despida. Afinal como o próprio disse “o sonho de muitas bandas pode ser pisar o palco do coliseu, mas talvez não seja o seu”. Afirmação que pode soar arrogante para quem não entende nas palavras de Allen uma ambição distinta, a de quem quer colocar dedos em feridas, contar o outro lado da história, sacudir mentes empedernidas.
Também com muitas histórias para contar, bem mais doces, seguiu-se Luís Severo. E esta será possivelmente a última oportunidade para ver este set do músico mais singelo, apenas acompanhado pela guitarra e piano. Diz-nos que nos restantes espectáculos para este ano vai haver mais gente em palco e que depois vai gravar novo disco, que já se adivinha ser outro sucesso para o rapaz da Cara d’Anjo que conquistou um lugar definitivo no coração de um público mais jovem e não só.
Pelas 20h sobem ao palco os You Can’t Win, Charlie Brown com muitas músicas de Marrow que, mesmo tendo sido editado em 2016, ainda soa fresco e dá a primeira sacudidela da noite à plateia do coliseu já mais composta. São cerca de 40 minutos a que cada banda tem direito e é com pena que percebemos que a pulsante “Pro Procrastinator” será a última do set destes rapazes.
Ficamos com o mesmo sentimento no final do concerto de Samuel Úria,que trouxe justificadamente a maior quantidade de gente ao palco (sim o Encore Project trouxe ainda mais, mas atenção que dissemos justificadamente, já lá chegamos…). O nosso Elvis português veio acompanhado do coro que temos visto dos seus últimos concertos desde que editou Carga de Ombro, e quase que roubava a noite com o seu rock’n’roll atravessado, não faltassem ainda subir a palco Linda Martini, Mão Morta e The Legendary Tigerman.
Para Linda Martini já não nos ocorrem elogios muito originais por esta altura do campeonato em que já perdemos a conta a todos os concertos que vimos da banda, com um bem especial que nos ficou na memória ali mesmo no coliseu há cerca de dois anos atrás. O melhor que nos ocorre dizer é que o último álbum está do caraças e ao vivo é sempre bom. Enquanto tiverem música para nós e as costas nos permitirem estes putos bons vão estar sempre lá, seja na primeira fila ou mais atrás.
E porque ao contrário do que se pensa a primeira fila não tem limite de idade, os Mão Morta são possivelmente a banda portuguesa com os melhores fãs de culto que já testemunhámos. Ter ao nosso lado uma mãe acompanhada pela prole a cantar fervorosamente e em semi transe “Pássaros a Esvoaçar” de fio a pavio, é coisa bonita de se ver (ainda há esperança para estas gerações futuras). De Adolfo Luxúria Canibal esperamos como sempre que deixe a alma em palco para o diabo a carregar. É impossível assistir a um concerto de Mão Morta sem nos deixarmos submergir pelo caos dos seus mundos apocalípticos.
Por esta altura parecia já não haver muito mais para arrasar no coliseu, mas faltava ainda subir a palco The Legendary Tigerman, que nos deu a todos febre alta, com o seu rock até à medula. Faltou-nos fôlego para acompanhar todos os seus arranques pelo corredor do palco colocado a meio da plateia, mais os despiques com o saxofone de João Cabrita e as quedas de joelhos com guitarra na mão, e tudo isto de camisa e calça branca – é preciso confiança.
Para nós, e a julgar também pelos muitos que abandonaram a sala após o concerto de The Legendary Tigerman, a noite teria terminado bem assim, com muito suor e energia electrizante. Mas faltava ainda o momento mais desconcertante e megalómano do EA Live, que manteve o secretismo até ao final, o Encore Project – Ao Som dos Heróis. Cabe a cada um dos que lá esteve tirar as suas conclusões, mas se calhar não sobram muitas para a entrada aparatosa/pretensiosa de Rui Pregal da Cunha, vestido à navegador e de maquilhagem branca, repostado numa chaise longue carregada em ombros por, chamemos-lhe simpaticamente, súbditos. Nem só de glórias é feita a história dos descobrimentos portugueses e podemos agradecer a Rui Pregal da Cunha por nos ter trazer também à lembrança o seu lado negro. E ainda mais uma nota para a orquestra em palco, que o som não ajudou, podiam ser quinze violinos em palco, podia ter sido apenas um, um verdadeiro desperdício dentro deste espectáculo de variedades.
Importa também falar das fantásticas produções de animação da autoria de VJ Filippo Fiumani que acompanharam todos concertos nos ecrãs instalados nas laterais do coliseu, bem como das entrevistas nos bastidores que deram um ritmo alucinante ao EA Live (só lamentamos que muitas vezes fosse difícil perceber o seu conteúdo), bem como os vídeos das muitas live sessions pelos intervalos dos concertos onde vimos Nerve, Dead Combo, Mazgani e tantos outros, que nos deixam convictos que para o ano em vez de um dia, o EA Live pode elevar a fasquia.