Reportagem


Eagles of Death Metal

À terceira foi de vez e a Nos Amis Tour passou finalmente por Portugal.

Coliseu dos Recreios

11/09/2016


© Fotografia oficial Everything Is New

À terceira foi de vez e a Nos Amis Tour passou finalmente por Portugal. Depois de um concerto inicial marcado para 10 de Dezembro que se viu relegado para 5 de Março, sendo também cancelado, a banda fez-nos acreditar que a espera valeu a pena e mostrou que o rock pode renascer das cinzas qual fénix.

Para se entrar no Coliseu havia que passar por uma rigorosa revista. O aparato policial fez-se notar e embora a improbabilidade de voltar a acontecer algo semelhante num concerto da mesma banda, percebe-se que a mesma se queira segura e aos que a seguem. Hoje, porque casa roubada trancas à porta, a segurança é reforçada para que impere o amor pela música e sobretudo pelo rock’n’roll.

Batem as 22 horas e o público já impaciente chama pela banda. O atraso é pouco e ainda sem debitar uma nota, o vocalista Jesse Hughes contempla o recinto e cumprimenta aqueles que se encontram mais à frente, cara a cara. No fundo do palco, está o logo da banda ladeado por dois grandes cartazes com uma imagem de Jesse numa alusão ao Tio Sam, usando a deixa “I Only Want You”, uma das mais famosas canções da banda. A música de fundo é a icónica “Magic”, dos Pilot.

Depois de espalhar simpatia, agarra na guitarra e ajeita o bigode, põe os óculos, passa as mãos no cabelo e a primeira a saltar dos amplificadores é “I Only Want You”, o primeiro grande êxito da banda de Palm Desert. O público entra desde logo em delírio e a energia faz-se brotar com uma plateia imparável.

Fotografia oficial Everything Is New

Fotografia oficial Everything Is New

“The Reverend” é a que se segue, abrindo alas para uma rajada de Zipper Down, o álbum que esta tour promove. “Whorehoppin’ (Shit, Goddam)” dá um salto para Peace Love Death Metal. A estrondosa “Complexity”, é um dos novos singles e muito orelhuda, entrando facilmente pelos ouvidos dentro. Na continuação do álbum novo segue “Silverlake (K.S.O.F.M.)” mais pausada mas ainda assim poderosa. A 2008 voltamos com “Secret Plans”, que convida todos a extravasar.

“Oh Girl” leva a manifestações de agrado da plateia feminina. É uma faixa mais calma, com bastantes laivos de Queens of the Stone Age. E por falar nisso, hoje só faltou mesmo Josh Homme.

“Cherry Cola”, dedicada ao público feminino, é um belo regressar ao álbum Death By Sexy, de 2006. “Save a Prayer”, versão dos Duran Duran é um dos temas mais recentes e carregado de simbolismo, à luz dos acontecimentos que mancharam o Bataclan de sangue. Escusado será dizer que todos conhecem esta canção e a mesma é entoada em uníssono.

Passado pouco mais de uma hora, a banda sai de palco, deixando em suspenso o prometido encore. Vão passando alguns minutos e o público, eufórico e impaciente vai batendo palmas, gritanto, e pressionando a banda para se despachar a voltar.

Voltam e Jesse Hughes traz novo modelito, desta feita um blazer vermelho comprido. “I Love You All The Time” vem no álbum novo e é dedicada aos fãs. É também uma das faixas que servem como resposta da banda ao terrorismo. Esta seria aquela que se seguia no alinhamento do concerto no Bataclan quando este foi interrompido.

Fotografia oficial Everything Is New

Fotografia oficial Everything Is New

Ouve-se também uma versão de David Bowie, “Moonage Daydream”. “Wannabe in L.A.” recua a 2008 e é um inevitável baile rock.“I Want You so Hard (Boy’s Bad News)” leva a um corropio na multidão. Copos de cerveja pelos ares, circle pits descoordenados, o que vier.

Jesse cantarola o refrão de “Hey Mickey”, de Toni Basil, incitando a que o cantemos. No entanto, é “Speaking in Tongues” que estamos prestes a ouvir. A certa altura, Jesse abandona o palco e deixa a restante banda a improvisar. Sem aviso, aparece no lado oposto do palco, no camarote presidencial, e muitos que ainda tentam perceber o que se passa só dão por ele quando a luz se foca naquela tribuna. De lá de cima, toca a sua guitarra e a banda que ainda está do outro lado, continua o improviso até que o mestre de cerimónias dê a volta ao Coliseu. Diz que têm algo de especial para a Europa e tocam um trecho da intemporal canção dos Europe, “The Final Countdown”.

As luzes acendem e a muito custo temos que sair. O sentimento é de alegria, ouviu-se boa música e os sorrisos estão estampados na cara. É incrível vermos que estes músicos, que tinham tudo para não voltarem a estar em cima de um palco, estão na sua melhor forma e não há neles um pingo de medo. Nas palavras de Jesse Hughes, de facto “nada consegue matar o rock’n’roll”. Hoje tivemos a prova viva disso.


sobre o autor

Andreia Vieira da Silva

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