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“A cena” – entidade nebulosa que vai a concertos a que pertencem só os que não têm que perguntar o que ela é – vai à missa às segundas. É a conclusão possível depois do conglomerado de barbas de lenhador, visuais ironicamente chiq e blazers que saíram dos tempos do PREC. Parece que renegar ao estatuto messiânico do hipsterismo com Pure Comedy só trouxe mais devotos ao Pai João porque claro que trouxe, não fosse o self loathing uma coisa. Mas sejamos justos, Pure Comedy tem o apelo de um sucesso transversal e há mais na audiência do que os tipos das acreditações.
Josh Tillman atravessa um período de graça desde que abandonou fileiras dos Fleet Foxes que não parece ter fim. A cada álbum faz o melhor da sua carreira e parece haver sempre uma nova remessa de fãs a converter. Para já estamos em Pure Comedy cujo alinhamento é precisamente o que motiva o início do concerto. Até “Ballad Of The Dying Man” a setlist imita a ordem do álbum. Nem há direito a intervenções da figura irrequieta em palco, pelo que a experiência é semelhante. E não, não estamos a apontar um defeito no concerto, mas a fazer um elogio ao trabalho de estúdio que parece ter sido feito para ser tocado ao vivo como nasceu.
E claro, não podemos passar ao lado do espetáculo que é ver, possivelmente, o homem mais branco de sempre a dançar, que o faz com tanta confiança que acaba por nos dar a volta. Há nos maneirismos, nos passos de dança e na forma como agarra o microfone uma concordância com o que está a contar. Este lado mais performativo permite-lhe ser mais parco nas suas interações com o público sem que o possamos acusar de ser pouco comunicativo (o primeiro “Thank you” surgiu a meio do set). Quando o foi, no entanto, há que lhe salutar a disponibilidade e sentido de humor.
“Às quatro pessoas que estiveram em silêncio,” principiava de forma inusitada no encore, “agora que estou a ler o cartaz é que o baixam. ‘Posso ter a setlist, ou tocar-te na barba?’ ” Não aconselhamos ninguém a ceder aos desejos de outrem de cofiar barba alheia, mas foi um momento bonito. O abraço também.
Para o Coliseu dos Recreios, que se encheu até esforçar as costuras, o concerto terá sido tudo o que se esperava, o melhor dos temas novos, com estada prolongada por terras de I Love You Honeybear e incursões que vão sendo menos necessárias por Fear Fun. Os momentos altos – se assim os podemos chamar quando não são geminados por momentos baixos – couberam a “When The God Of Love Returns There Will Be Hell To Pay”, “I Love You, Honeybear” e a sacarinada “Real Love Baby” e o público foi a medida ideal de participativo e bem comportado.
O concerto termina com “The Ideal Husband” arrancada a cansaço por um homem que caiu mais vezes de joelhos numa noite do que uma peregrina veterana. Mas o fastio de fim de digressão só se nota nas pernas menos bamboleantes do que o que é habitual; a voz mantém a suavidade dum whiskey velho. É o que se bebe na missa, não é?
Não podíamos não mencionar o quanto gostámos de ouvir Weyes Blood. Há que gostar de um concerto de abertura que não o parece. Quando Natalie Mering gracejou em agradecimento ao público dizendo-lhes “mantenham-se por aqui para ver Father John Misty”, aí ocorreu-nos o quanto as bandas de abertura padecem do síndrome de “convidado em casa de estranhos”. Só quando Natalie Mering rompeu a tradição e fez daquele espetáculo seu e deu tempo ao seu alinhamento para respirar, ao invés de o despachar, é que o notámos. Ajuda ter muita graça.