Reportagem


Franz Ferdinand

Heróis Incendiários

NOS ALIVE

14/07/2018


O melhor concerto a que o NOS Alive assistiu no palco principal não é contestável: Queens Of The Stone Age deram um bom espetáculo e o público respondeu na mesma moeda. Mas ninguém tira aos Franz Ferdinand um segundo lugar honroso, sacado a ferros a um público que se revelaria de uma apatia especial. Os Nine Inch Nails sofreram com isso, ver Jack White não receber a adulação que um guitarrista como ele merece foi um calvário. Só a banda de “This Fire” foi capaz de fugir à sentença de um público que não estaria ali necessariamente para a ver.

Não que a banda não esteja habituada fugir ao que parece impossível. Por alturas do lançamento de Right Thoughts, Right Words, RIght Action, os escoceses pareciam condenados à mesma irrelevância indie-rock dos The Wombats – ainda vos adoro -, mas em 2018, ei-los, com novo guitarrista e com um ultra recomendável Always Ascending.

O concerto arranca com “Do You Want To” do álbum de estreia e confessamos que não nos lembrávamos do quão roqueiros estes rapazes conseguiam ser. Ao vivo, com a distorção das guitarras up to eleven e com uma destreza de movimentos que, não sendo ensaiada, parece ter-se enraizado numa coreografia natural, os Franz Ferdinand parecem os reis do roque éne role. E como que para enfatizar essa imagem, os tiques elvisanos – elvisescos? Elviónicos ? – os tiques presleyanos da voz de Alex Kapranos cimentavam essa impressão.

“NOS Alive, you do not hear me: Do you feel good?“ perguntava na primeira que instigava o público. “We’re Franz Ferdinand, we’re from Glasgow and, boy, we’re so happy to be here.”  É possível que o que tenha dito seja verdade, é possível que não. Não é relevante. Se estás numa banda e precisas de converter uma missa de agnósticos em crentes o teu sermão tem que ser “fingir até conseguir”. Talvez para os Franz Ferdinand seja mais fácil porque nos parecem genuinamente jovens bem-humorados, mas compensou pular, compensou interagir, compensou fazer piadinhas, piscar olhos, correr de um lado para o outro, porque é possível vencer a apatia pelo cansaço.

“I see this sea of people and I see this desire to be taken to the disco dance. I see it in every face.”

E acreditando viu mesmo.

Por altura da sequência de “Ulysses,” ”Take me Out” e “This Fire” já se ouvia o NOS Alive cantar com a voz de peito e a pular com pés fora do chão ao invés daquela flexão que numa multidão passa por salto. E falemos de “This Fire”: pode uma canção ser mais 2009 que este hino? Cantada a tantas vozes e tantas vezes – juramos que a versão de disco tem menos refrães – fez-nos ter saudades duma altura em que se podia fazer canções divertidas sem a selfawareness jocosa, sem o sarcasmo e ironia do que veio depois de 2010. Culpamos o Father John Misty. E os Arctic Monkeys. E a nos próprios.

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(Fotos por Hugo Rodrigues)

sobre o autor

Jorge De Almeida

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