Reportagem


Fucked Up

Hardcore com Açúcar

NOS Primavera Sound

07/06/2019


Havia um plano de reportagem para o segundo dia. Assistir a J Balvin na esperança de que o artista de reggaeton provasse a toda a gente que as críticas feitas a este festival estavam erradas. Que ele pertencia aquele palco e que se não compraram bilhete porque a vossa banda de guitarrinhas não veio, então, cometeram um erro.

Mas quando principiou o dia, a indicação é que não haveria possibilidade de fotorreportagem. Assim sendo, a escolha estava feita por nós: Fucked Up. Péssimo nome.

Entretanto, a proibição de fotógrafos foi revista, mas já tínhamos feito o investimento emocional na nossa decisão. Além disso, para lap dance, temos o show da Mónica no Viking.

Se foram a J Balvin, não queremos dizer-vos que fizeram a escolha errada. As reportagens e pareceres imediatos dão conta de um bom concerto. Óptimo, o importante é estar feliz. Porém, vamos dizer-vos que o melhor concerto do dia foi protagonizado por um tipo careca, com uma “dadbod” com órbita própria, que amiúde deixava descer as calças para lhe vermos os boxers e o rego. Valeu bem o curso em Letras para poder escrever esta frase.

Mas a abertura das hostilidades começaria com os petizes da Escola do Rock de Paredes De Coura para a primeira canção. Mais guitarras do que conseguíamos contar, alturas variáveis, vocalistas para competir em número com os Bang Camaro, o palco só precisava de mais um ingrediente. E eis que surge, no papel de Jack Black em School Of Rock, um canadiano endiabrado, seu nome, Damian Abraham.

Se há banda de punk que combina com infância é Fucked Up. Num slogan, resumiríamos o conjunto como “Hardcore com Açúcar”. A voz arranhada está lá, a pujança, os temas e a velocidade também, mas soa tudo em acordes maiores. E os sorrisos na cara não mentem. A ambição de Dose Your Dreams, não é o refreamento do título, mas o de dar largas à alegria. Até os seguranças tiveram direito a high-fives.

“Sandy, take the mike,” dizia Damian à baixista Sandy Miranda. Não há que enganar, aquele apelido é português e foi em sotaque perfeito que nos disse “Olá, eu falo um bocadinho português; os meus pais são portugueses. Obrigado por nos verem.”

“What she said,” completava o corredor canadiano de microfone na mão.

Não contámos as vezes que se entregou de corpo e alma aos temas e acabou no chão de barriga para cima. Deu o que tinha para dar e a mais não era obrigado. Fez pistolinhas para o ar de felicidade, pôs duas garrafas na testa como um baphomet pró-reciclagem e ainda se revelou um verdadeiro “mark” quando evidenciou o casaco da New Japan Pro Wrestling que trazia vestido.

“This is our last song, if you want to sing-a-long you only have to say ‘dying on the inside’.”

Veio para a grade cantar e distribuir o microfone pelo público. Esgotaram-se ali várias gargantas e o suor via-se a saltar. No fim, enquanto o concerto acaba e os restantes músicos voltam para trás do palco, Damian deixa-se ficar e tira fotos com quem lhe pedia uma selfie, um abraço ou um “too sweat.” O Bullet Club ficaria orgulhoso.

Galeria


(Fotos por Hugo Rodrigues)

sobre o autor

Jorge De Almeida

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