Reportagem


Insomnium + Tribulation

Inverno e sangue novo

RCA Club

10/04/2018


© Jussi Ratilainen

Em noite de chuvas torrenciais e frio, o RCA em Lisboa recebeu dois dos nomes que fazem tremer o metal nórdico actual. Da Finlândia, os Insomnium trouxeram consigo o inverno (literalmente) e da Suécia os Tribulation, o sangue novo da música pesada.

Pelas 21h em ponto, já os suecos Tribulation sobem a palco, devidamente caracterizados. Durante a hora de concerto que lhes foi atribuída mostraram o que têm de melhor: alguma teatralidade, energia e uma exímia capacidade de tocar ao vivo. Com um álbum lançado este ano, Down Below, o alinhamento não fugiu muito deste: faixas como “Lady Death” ou “The Lament” conquistaram o público, mal os seus acordes iniciaram. Mas houve ainda tempo para temas mais antigos como a  grandiosa “Melancholia” que revisitou Children of The Night. É um tema que tem alma black metal mas que consegue dar-nos mais que isso. E é nisto que os Tribulation trazem algo de novo. Não se limitam a entrar num estilo só, reinventam-no. Não os conseguimos pôr numa caixa. Passeiam-se pelo black, death, algum progressivo e o que sabemos é que estão a pavimentar o futuro do metal com toda a sua mestria.

Os Tribulation são uma banda relativamente recente. Contam 4 álbuns e têm membros ainda bastante jovens. Não são, (ainda) uma banda sobejamente conhecida. Mas o facto é que no final do concerto as opiniões eram unânimes quanto à sua qualidade ao vivo. Souberam prender o público e cativar os desconhecedores da banda, não só valendo-se do bom repertório que têm mas também pela habilidade de estar num palco e hipnotizar. São claramente um nome a ter em conta nestas lides. O futuro passou por aqui.

O palco já se encontrava pronto para receber os Insomnium e como intro solene ouvimos o tema do filme Academia de Polícia, o que traz um toque humorístico à coisa.

A banda inicia os primeiros acordes rápidos de Winter’s Gate (talvez o trabalho mais magistral da banda até à data) com o vocalista Niilo Sevänen a gritar “Lisbon!”, recebendo uma chuva de aplausos. O mais recente registo da banda foi tocado na íntegra, não fosse uma obra de arte como um todo.

Sevänen comunica sempre que pode com o público. Diz que em Espanha “it was good. But you have to be better!”, acendendo o rastilho do público português e a eterna rivalidade com o país vizinho.

Concluída a apresentação irrepreensível do álbum que dá mote a esta tour, segue-se uma viagem até Shadows of the Dying Sun com “The Primeval Dark” e “While We Sleep”, euforicamente recebidas pelo público. A banda mostra-se estarrecida com o calor dos fãs portugueses e Niilo impõe bem alto a bandeira portuguesa como gesto de agradecimento. Há ainda espaço para “Mortal Share”, “Down With the Sun” e “Weather the Storm”, cada tema sempre bem recebido pelos presentes.

A plateia sabe de cor “Ephemeral” e Niilo não resiste a agradecer-nos mais uma vez e a chamar-nos “Lindos!” num português bonito de se ouvir. Apresenta-nos “The Promethean Song” e abre alas para mais um momento de headbang. Acabado o alinhamento principal a banda abandona o palco por momentos e regressou ao mesmo pouco depois com Niilo a perguntar-nos se queríamos ouvir mais um tema. Tocaram a mais agressiva “Only One Who Waits”, do álbum One For Sorrow, arrancando o inevitável headbang colectivo. A banda despediu-se finalmente entre sorrisos e palmas com a certeza de missão cumprida com tanto calor humano de que foi alvo.


sobre o autor

Andreia Vieira da Silva

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