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Quando deixámos o concerto dos Built to Spill para trás já encontrávamos Jarvis Cocker empoleirado no Palco Seat. A figura profética de fuchsia encharcada acercava-se do seu público quanto podia e imediatamente se percebia que este ia ser um espetáculo diferente do que até aí tínhamos visto no NOS Primavera-nem-vê-la Sound.
“Olá, como lo estamos” perguntava antes de corrigir a má castelhanização da frase. “Was that alright? I’m trying to communicate.” E comunicar seria o predicado de um espéctaculo ligado por uma narrativa que parecia semi-improvisada -não era -e que introduzia tema após tema.
“I’m Jarvis, the band is Jarv Is, you are Primavera,” esclareceu, lembrando que nem toda plêiade que o rodeia se chama “Pulp”. “We’ve come to Primavera, but we wanna go further. Do you wanna go further? To ‘Further Complications’?” E foi assim que, sucessivamente, em contexto de conversa que anunciava os temas que tinha reservado para nós.
Esperneador nato, figura que recusa que a gravidade e a idade lhe tirem asas dos pés, Jarvis dança como aquele colega de trabalho quarentão sem inibições durantes as festas da empresa. É hipnotizante e perfeitamente facultativo para quem é capaz de entreter multidões só com palavras e anedotas. Não fosse o grisalho do cabelo, diríamos que Jarvis teria parado nos 30.
“Do you like dancing?”
Sim, respondiam os festivaleiros, ainda que não seja concebível que estivessemos a falar das mesmas doses de “gostar.” “This is a song about a man that liked to go to parties,” frase que preambulava a ambivalência de “House Music” e conseguinte “Homewrecker,” temas de uma história que ficará guardada na memória dos presentes.
Também para contar aos netos ficará o momento oportuno em que, após Jarvis pedir desculpa por ter trazido o tempo e ficar aliviado por tudo ter corrido bem, a depressão Miguel fez chover as cataratas que tinha guardadas num espaço curto de 5 minutos. Palmas aos que fizeram finca pé enquanto outros – nós, também – procurámos abrigo até o pior ter passado. Se a nós no tivesse perguntado cara a cara, como fez com outros membros do público, qual o nosso maior medo, a resposta não seria “cobras”, mas antes “o risco muito real de hipotermia.”
Mas tudo foi pelo melhor. Ainda distribuiu Toblerones e desculpas pelos adeptos hooligans ingleses que no dia anterior trouxeram a sua anormalidade à cidade do Porto. Se Jarvis pergunta “Must I Evolve” a resposta é que não, mas há conterrâneos para quem seria sim.
“There are nice english people. There are nice people everywhere. It’s the people at the top,” e já adivinhamos para onde este fim de concerto se dirige. “They’re cunts”. Bingo. “The cunts are running the world… but not for long.” E despedimo-nos assim do melhor concerto do primeiro dia do NOS Primavera Sound ao som da chamada às armas, “Cunts Are Running The World.”
Comunicativo, charmoso, jovial; trouxe a festa e a bola de espelhos figurativa e literal que o festival precisava para ganhar outra luz.