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Foi na sexta-feira, dia 25, que fomos até ao Auditório de Espinho para os prometidos (e ultrapassados) 70 minutos de Kevin Morby. E que 70 minutos.
Um auditório esgotado recebeu, antes do protagonista, a doce Meg Baird, dona de uma voz vulnerável e de um enredo quase impercetível que, estranhamente, faz todo o sentido. Baird é toda sorrisos tímidos à beira da sua guitarra, o que nos faz ficar presos nela, mas nem tanto na sua música. As melodias de Baird podiam ficar-nos no ouvido momentaneamente, mas acabam por se perder na quietude da sala. O problema não está nela, no entanto; está, ele, por antecipar um ato cheio de energia que se apelida de Kevin Morby. A comparação é o que a mata. E, se isto era suspeitado no início, no final deste artigo é mais do que confirmado.
Quando Morby entra em palco, uns bons minutos depois de Baird, somos lembrados das atuações há cerca de mais de um ano no Porto, quando era só ele e as duas guitarras, para um público certamente menos atento que o desta noite.
O set abre com músicas do novo álbum, “Singing Saw”. Kevin Morby é todo energia a interpretar o novo material, ao lado do ensemble muito parecido com o original, mas que agora conta com bateria. O norte-americano é o epicentro de tudo, naquele momento. O público tem os olhos nele e os elementos da banda giram em torno dele, respondem a todos os seus gestos e movimentos.
Quando Kevin volta aos trabalhos mais antigos, como “Harlem River” e, mais tarde, “Miles, Miles, Miles”, dedicada, como sempre, ao programador e amigo pessoal André Gomes, vemos o contraste gritante em relação aos concertos de há dois anos para cá. Não é só o cabelo e a composição da banda que estão maiores. Também ele e a auto-confiança estão maiores do que a própria vida. São os passos descontraídos e as palavras proferidas com a maior certeza do Mundo que provam que, se há uns anos Morby se achava um sortudo, agora sabe, sem qualquer sombra de dúvida, que é naquele palco onde deve estar. E há melhor do que vermos com os nossos próprios olhos um artista aperceber-se disso? Provavelmente os sortudos somos nós.
Morby preenche o palco com o seu carisma, os seus riffs mais violentos e presentes do que nunca, a sua guitarra acústica, que o acompanhava sempre, pousada noutro sítio qualquer. Ainda assim, músicas que em si só trazem toda a fragilidade do mundo, têm o candor e preciosismo que merecem. Morby não se apressa em tocar “All of My Life”. É uma música emocional, que se faz sentir em toda a sala e que não merece qualquer tipo de rapidez.
Depois de mais algumas exibições do álbum novo, Morby decide voltar ao formato que distingue um cantautor notável dos outros, como se de uma agulha no palheiro se tratasse. Os astros alinham-se quando erguem-se ele e a sua guitarra no palco. O encore vem no registo do novo EP em apoio às vítimas de Orlando, em que toca uma versão calorosa da “Beautiful Strangers” e uma cover da música “No Place to Fall”, do legendário Townes Van Zandt. O segundo encore, que Morby diz ser totalmente merecido por ser este, “tecnicamente, o último concerto da digressão”, traz consigo a amável Meg Baird e mais duas músicas que fazem esta noite parecer uma das mais quentes de sempre.
Se este concerto é prova de alguma coisa é que Kevin Morby é já uma estrela, daquelas que brilham mais do que as outras, se olharmos o tempo suficiente.