Reportagem


Liars

Ele está bem é assim sozinho

Estação Ferroviária do Rossio

25/11/2017


Não sabemos se foi a corrida desenfreada avenida abaixo ou se a figura medonha de noiva de Angus Andrew que nos deixou sem pinga de sangue quando aterrámos na Estação Ferroviária do Rossio para o concerto dos Liars. O espectáculo à nossa frente provoca-nos tanto o susto como o riso, não porque a música do australiano seja para brincadeiras, mas é-nos impossível observar este concerto sem uma espécie de desconforto desconcertante.

Os decibéis puxados até ao limite fazem-nos recuar umas boas filas para longe das colunas, não vale a pena estoirar os tímpanos agora que já estamos quase no final deste Vodafone Mexefest.

Cá mais atrás observamos um público que se divide entre os que observam o fenómeno com curiosidade e os que soltam os demónios na esquizofrenia da música noise-rock-punk-electrónica-art-experimental (aceitam-se outras sugestões que definam os Liars) deste monstro que perdeu em 2017 uma das suas cabeças – Aaron Hemphill – num divórcio sem litígio.

Depois da separação, e mesmo considerando os músicos que acompanham Angus Andrew em digressão, é justo dizer que os Liars são agora um projecto a solo, um casamento do australiano consigo mesmo. O seu último trabalho, TFCF (Theme From Crying Fountain), escrito numa ilha remota da sua terra natal, é um break up álbum, paranóico e solitário, “It broke my heart/ I close my eyes / you turned on me” ouviu-se ontem em “Coins In My Caged Fist”.

Mas não há nada de melancólico na actuação dos Liars, há sim uma raiva frenética, correrias pelo palco, objectos derrubados, tules esvoaçantes e aquela típica barriga proeminente de um longo casamento. Não sabemos se Angus Andrew encontrará um novo par, usamos antes aquele cliché quando um bom amigo se separa, “ele está bem é assim sozinho”.

Galeria


(Fotos por Hugo Rodrigues)

sobre o autor

Vera Brito

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