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Como confiar nestes Men I Trust, se o nome da banda parece a continuação argumentativa da hashtag #notallmen? Pior, nem sequer são todos homens. É o mesmo tipo de pesadelo de linguagem prescritiva em que vivo sempre que penso que os Wolf Alice não têm um lobo a sério na banda e ninguém se chama Alice.
Adiante.
Os canadianos ocupam este ano o lugar que Yellow Days ocupava o ano passado. O projecto mais fora do radar em que depositávamos grandes esperanças. Não sabemos se lhe chamamos synth-pop, dream-pop, electro-pop ou “Vaporwave: a banda,” mas a variante pop de dois acordes de guitarra por minuto dos Men I Trust ganhou um lugar cativo na nossa playlist.
Explicar o concerto é um tanto complicado. Dissemos em Dino D’Santiago, que atuou uma hora antes, que “um bom concerto não depende só dos temas apresentados.” Se recuarmos aos Cigarrettes After Sex, em 2017, ou fizermos a comparação Christina Rosenvinge, não podemos dizer que os Men I Trust façam em palco algo de espetacularmente diferente. No entanto, o que fazem é a diferença entre um concerto aborrecido e um concerto de desfrutação lenta.
Assim que Emma nos cumprimenta com um languido “Hey” já estamos derretidos. “We’re Men I Trust; thank you for being here, you all look lovely.” Na voz nota-se uma timidez menina que assenta perfeitamente na linguagem corporal da vocalista. É o mesmo tipo de “encantador” que usaríamos para descrever a música e é aqui que nos parece estar o segredo do sucesso: a correspondência cognitiva entre o estilo de música e a postura em palco. É a recompensa por uma certa honestidade que às vezes falta: nada, nem espetáculo, nem canções, parecem o tipo errado – “fachada” – de performativo.
Ao olhar para o nosso bloco de apontamentos, não há muito mais a dizer. Foram regrados no uso da palavra, o baterista trazia só meio kit de bateria, e cada um parecia tocar para si. Emma ria-se de vez amiúde quando parecia cruzar olhares com alguém do público e agradecia de vez em quando. Elogiamos-lhe os solos de guitarra de slides e tremolos que deixam o reverb fazer a sua magia. Com três álbuns de estúdio na mesma onda sonora, os concertos acabam por seguir o mesmo padrão, não variando muito no intervalo que separa a vaporwave de “Show Me How” da eletrónica mais dançável de “Lauren”.
É tudo muito sereno e perfeitamente agradável.
“Thank you, this will be our last song. Love you all.”
Também.