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Dia há muito esgotado para rever Radiohead no sítio onde tocaram na sua última visita ao nosso país. Com álbum novo na bagagem, o aclamado A Moon Shaped Pool, a curiosidade era imensa para ver uma das maiores bandas de culto dos nossos tempos. Mas, antes disso, houve, finalmente, uma série de concertos que ficarão para a história do festival. Para muitos, o dia começou cedo com um dos mais recentes fenómenos, Years & Years, a abrir o palco principal. Num concerto que soube a Verão, os ingleses estavam praticamente a jogar em casa, para um público que falava uma imensidade de idiomas, demonstrando que a cada edição que passa, o NOS Alive se torna um festival cada vez mais internacional. King, o tema que os catapultou para a ribalta, foi cantado a uma só voz. O trio de electropop pôs uma pequena multidão a dançar. Outra pequena enchente esperava Courtney Barnett no palco Heineken. Dead Fox, um dos temas que compõe o seu primeiro longa duração Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit, abriu as hostes para um concerto efervescente, de total entrega do público que a aguardava e para quem este terá sido certamente um dos concertos do festival. O som estava alto, muito alto, e com Nobody Really Cares If You Don’t Go to the Party fechou a sua actuação, que será recordada.
Entretanto, do outro lado do recinto, já os Foals iam lançados para um concerto, naturalmente, baseado nos seus dois últimos álbuns, Holy Fire e What Went Down. Há saudades dos ambientes mais emocionados de Total Life Forever, de onde ainda deu para ouvir a lindíssima Spanish Sahara, mas as vibrantes guitarras que imperaram durante todo o concerto, aliados ao quase funk dos novos sons, foram rainhas de um sunset improvisado. Inhaler e What Went Down fecharam em grande um concerto de mais uns repetentes nestas andanças e de quem, provavelmente, muitos pouco esperavam.
Nem vale a pena falar muito sobre o fenómeno Tame Impala em Portugal. Está mais do que sabido: onde quer que estejam, venham quantas vezes vierem, há uma casa cheia à espera de os receber de braços abertos e os australianos sabem disso. E nem foi preciso esperar muito para, como se diz na gíria, ver a carne ser posta no grelhador. O fervoroso arranque com Nangs, logo seguida de Let It Happen, que já se tornou um hino, mostraram imediatamente o que esperar dali: o psicadelismo dos Tame Impala está para durar e a sua legião cresce a cada dia que passa, alastrando a febre aos festivaleiros mais novos que se começam a aventurar nas lides da música. Depois deste hipnotizante arranque, choveram confettis como se a festa estivesse para terminar. No entanto, estava ainda a começar e, rapidamente, o NOS Alive se tornou num mini Woodstock onde nem topless faltou.
Enquanto os Tame Impala continuavam a destilar energia, o gigante Father John Misty subia ao palco Heineken. Coube-lhe a ele tocar à hora mais ingrata, entalado entre Tame Impala e Radiohead, mas também é dele o concerto da noite. Há qualquer coisa de cativante na personagem que o cantautor veste em palco: desde a forma como se move, até à sua voz penetrante e arrepiante. É um sedutor nato e veio decidido a derreter corações. Algures pelas cortinas vermelhas que adereçavam o palco, entra com a majestosa Hollywood Forever Cemetery Sings, logo seguida da doce When You’re Smiling and Astride Me. Mas foi com a sua canção de amor menos ortodoxa, Chateau Lobby #4 (In C For Two Virgins), que deixou a plateia completamente rendida. Depois de um concerto tão intenso, o difícil foi aceitar o final e perceber que, depois de The Ideal Husband, restava abandonar e seguir viagem.
Os Radiohead estavam a subir ao palco para uma entrada que deveria ter sido bem mais intensa do que se esperava. Muito aparato visual, com múltiplos ecrãs que permitiam, mesmo de longe, ir acompanhando o que se passava no palco, começaram um desfile de grandes canções com Burn the Witch. Optaram por um alinhamento muito baseado no mais recente A Moon Shaped Pool e, para quem ainda tinha presente na memória a grandiosidade do espectáculo de 2012, houve um sentimento recorrente de que faltava algo: faltava menos introspecção, mais volume, que estava ridiculamente baixo, mais emoção e menos alheamento da plateia, que foi aproveitando momentos mortos para pôr alguma conversa em dia. Valeu pela segunda metade do concerto, que é o que irá ficar na memória: porque sabe sempre tão bem revisitar temas como Idioteque ou Exit Music (for a Film). O crescendo culminou com Street Spirit (Fade Out), num momento quase apoteótico e com a qual Thom Yorke e companhia se retiraram pela primeira vez do palco. Haveriam de voltar, para um vibrante primeiro encore composto por canções escolhidas a dedo, entre as quais a intimista Nude, a intemporal Paranoid Android, ou a explosiva There There. Regressaram uma segunda vez para aquilo que já se esperava: telemóveis ao alto, que doze anos depois os Radiohead estão novamente a tocar a Creep e, logo de seguida, Karma Police. E, apesar de tudo o que se diz sobre ambas, foram momentos que souberam bem testemunhar.
Pequeno pânico foi o que se viveu a seguir: alguns optaram por ir embora, mas uma larga maioria decidiu ficar para a festa em Two Door Cinema Club, num concerto que só pecou por não ter sido no palco principal. Milhares e milhares de pessoas precipitaram-se para a tenda Heineken, na esperança de terminar a noite com um caloroso pé de dança.
Depois de um primeiro dia morno, o segundo dia foi bem mais caloroso. Desta noite, ficam boas memórias de grandes momentos. Mas o melhor ainda haveria de estar para vir.