//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Ao terceiro dia o Palco NOS do NOS Alive parece ter sido feito com curadoria da Rádio Comercial. Só por questões de clareza, deixem-nos explicar que dizemo-lo da forma menos simpática possível. Até queríamos descobrir por nós próprios o que o novo trabalho dos Depeche Mode tinha feito para revitalizar a banda, mas a luxúria é um pecado demasiado forte para lhe conseguirmos resistir e a plêiade de bandas do Palco Heineken deu os proverbiais 15-0 a tudo mais que estivesse a acontecer no palco das “apostas fortes”. Com pena nossa, alguns dos artistas do Palco Coreto, que tinha uma proposta toda ela interessante, tiveram que ficar para um sonho bonito que não concretizámos.
Chegámos atrasados ao recinto, mas ainda a tempo de apanharmos os Monstro e os Plastic People. O post-punk garageiro destes últimos deixou-nos convencidos a ouvir mais desta banda de Alcobaça que soa à resposta portuguesa aos Interpol. O baixo falhou algumas vezes, mas assim que os problemas técnicos ficaram para trás das costas a qualidade e maturidade em palco justificaram em pleno a inclusão neste dia.
Uma breve nota: Durante todo o concerto, sempre que se dirigiram ao público, a banda fê-lo em inglês (excepção feita para dizer que eram de Alcobaça). Esta é uma escolha inteligente e legítima. Pode soar um pouco pretensioso, mas num festival como o NOS Alive, que atrai imensos estrangeiros, não só público, mas membros da imprensa internacional, o idiota é não arriscar ficar na memória de alguém que vá para outro país mencionar aqueles gajos que “até disseram umas coisas que eu percebi.”
Seguiu-se Benjamin Booker que trouxe consigo o seu rockabilly de baixo saturado e guitarra cortante. Alguns atalhos pelo soul e pelo blues fazem de Benjamin Booker um artista de outro tempo preso em 2017. Felizmente a jovialidade da entrega, do corpo e da voz não dão azo a anacronismos. “Thank you for coming and watching! I’m Benjamin Booker,” agradeceu ao apresentar-se. Com o sucesso crítico de Witness, álbum lançado este ano, e o imediatismo de temas mais antigos como “Violent Shiver” (melhor momento do concerto) apostamos que nos voltamos a ver.
Durante o concerto, pulámos discretamente à tenda de imprensa e ao longe ainda conseguimos ouvir um bocadinho dos Mumford & Sons – não é um erro – e achámos por bem deixá-los a fazer feliz quem tiverem a fazer e voltar rápido para Benjamin Booker.
Terminado o concerto segue-se a melhor sucessão de espectáculos de todo o festival. Spoon, Fleet Foxes e Cage The Elephant, de rajada, é pornografia hipster (não googlem).
Há muita gente para ver Spoon (vamos arriscar dizer que mais do que para Fleet Foxes). Quando a banda entra em palco, já estamos devidamente compactados. Falta o vocalista Britt Daniel que quando finalmente entra em palco de blazer nos traz à memória o Time Lord mais bem vestido de Gallifrey. Faltava um laço.
Com um novo disco nas mangas, os Spoon ficaram estranhamente dispersos por todo o seu reportório. “Hot Thoughts,” faixa homónima do álbum, obteve umas da maiores ovações da noite pelo que a escolha não se compreende de imediato. Não é uma queixa, é uma estranheza. Dêem-nos o “Spoon: The Greatest Hits” como álbum e estamos amanhã a esvaziar estantes, portanto, como concerto funciona perfeitamente. A energia contagiante da banda ter-nos-ia feito dançar mais se tivéssemos espaço e/ou talento. Britt Daniel é um tipo cheio de pinta e comunicativo q.b. “Obrigado! How are you Lisbon?” perguntava retóricamente. “We like it in here – it’s kind of indoors,” observava antes dos Spoon se atirarem a “Hot Thoughts.”
Nunca ao nível paquidérmico dos Cage The Elephant, os americanos de Austin também se sentiram confortáveis o suficiente para ocuparem o espaço que era deles com a devida extroversão. Britt Daniel ajoelhava-se e deitava-se sobre o palco em gestos implorativos, mas ficava-nos mal não mencionar o multi-instrumentista Alex Fischel que quando pegava na guitarra tocava-a como se a odiasse de paixão.
Cá em baixo a energia que vinha do palco reverberava. Depois de mencionar que há mais Spoon em Portugal em Novembro – “We hope to see you there”- Daniel jura que este, o último, foi o “favourite show of the tour.” A banda despede-se e depois do palco Heineken se transformar numa pista de dança pela última vez esvazia-se com uma velocidade tremenda.
Aproveitámos a pausa para restaurar energia. Ao longe as colunas do Palco NOS debitam música de trailer. Ou o Michael Bay tem novo filme ou os Imagine Dragons estão a tocar. Nenhuma das hipóteses nos parece particularmente interessante.
Voltámos ao palco Heineken com mais olhos que barriga. Fleet Foxes e Cage The Elephant é dose. Os primeiros tecem elogios aos Spoon – “What a great band” – e a humildade fica-lhes bem. São a banda mais calminha do trio, mas a beleza das melodias compete no mesmo campeonato que o ritmo dos antecessores e que a violência de quem lhes vai tomar o palco. Há mais para ler na reportagem.
Quanto aos Cage The Elephant, não é demais voltar a bater na mesma tecla. Foram de facto os cabeças de cartaz. O palco Heineken foi pequeno demais para acolher todos os que queriam ver de perto Matt Shultz a arremessar suor durante o crowdsurf.
Terminou para nós aqui o NOS Alive 2017. Ainda faltava Avalanches e Peaches que teríamos todo o gosto em ver, mas ao terceiro dia a vontade quebra-se.
Algumas considerações sobre o festival: Merece todos os elogios que a imprensa nacional e internacional lhe tece. Em Portugal não há outro que lhe toque em ambição. Se falarmos de ecletismo, a conversa é outra. Tem problemas fundamentais que não se resolvem sem sair do Passeio Marítimo de Algés, mas não adianta repisar o que não tem solução. Grave é, tentando-se menorizar o problema de acesso, que não haja uma articulação de outras entidades com o Festival. Felizmente sabemos que a culpa aqui não é da organização. As notícias que saíram ao longo destes três dias sobre a caça à Cabify revelam, no mínimo, uma mesquinhez repudiável.
Enfim, para o ano há mais.
#TheDreamWasReal #Olhemparanosasermosdajuventudecomhashtagsetal