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A sexta edição do NOS “acho-que-antes-vou-ver” Primavera Sound trouxe ao Parque da Cidade do Porto a sua maior assistência. Bon Iver, Run The Jewels e Aphex Twin terão ajudado à causa, mas o cultivo de uma aposta alternativa que nos deixa descansados em relação aos nomes que não conhecemos, o conforto e aquilo que em informática se chamaria “user experience” que não se encontra em outros festivais desta dimensão, alguns do mesmo mecenas, é o verdadeiro segredo para o sucesso do certame, que, durante o seu estado de graça, ainda esperamos ver crescer.
Chegámos ao NOS Primavera Sound ainda as portas não tinham sido abertas ao grande público. Alguns ajustes ainda estavam por fazer aqui e ali e ao longe ouvíamos o soundcheck dos Cigarettes After Sex. O céu está nublado e a proximidade com o mar dá-nos a garantia que hoje é dia de agasalho. Não foi isto que nos foi prometido.
Os primeiros festivaleiros não demorariam muito tempo a chegar. A maioria faz a rota dos recuerdos e logo se vai sentar no palco Super Bock onde Samuel Úria inauguraria esta edição. Alguns dirigem-se logo para as grades do palco principal para marcar o lugar. Há quem venha a um festival para não ir ao festival.
À hora marcada, tema recorrente e bem vindo, Samuel Úria desbrava o caminho do backstage para a frente do palco. O público está compostinho, mas nos dias seguintes iríamos perceber que foi o primeiro concerto menos concorrido. A maioria está sentada no chão, aproveitando enquanto os concertos não se tornam um pandemónio de corpos, enquanto um pequeno núcleo se estanca em frente do palco. Na nossa reportagem gabámos o humor do artista que nos entreteve com as suas referências mais rebuscadas, mas talvez devêssemos ter puxado mais lustro às belíssimas canções de Carga De Ombro que ainda não sabíamos como se traduziriam ao vivo. A resposta é “bem”.
Quando Samuel Úria termina, vemos o movimento pendular do público que haveria de se repetir o dia inteiro. Só os palcos NOS e Super Bock têm animação e há que aproveitar o dia em que a omnipresença não é requisito para ver tudo.
Cigarettes After Sex estão no palco NOS ainda o staff técnico não desligou os microfones no outro. Há muitos casais a cumprir a tradição da praxe e a trocar afetos ao longo do set, mas o ambiente é complicado de forçar. São as 17:55 da tarde, para aqueles que peregrinaram de carro até ao Porto este é um bom momento para descansar. Em palco, os músicos tocam de forma competente, mas também parecem perceber que aquele não é o momento deles. Como nos disse um colega: ” nem eles pareciam querer estar ali”.
Já Scott Matthew, convidado de Rodrigo Leão, parecia não acreditar estar ali. Imaginamos que seja um introvertido por natureza a quem um concerto às claras deixa um tanto nervoso. Nada contra; faz parte do charme. De volta ao Super Bock, o concerto de Rodrigo Leão & Scott Matthew deixou-nos a lidar com uma montanha russa de energia. Por um lado, enquanto Scott esteve em palco, a melancolia apossava-se de nós, por outro, quando Rodrigo Leão ficava entregue a si e à sua banda, a agitação dos ritmos dava vida própria às ancas. A determinada altura ocorre-nos que Rodrigo Leão é um espécie de Kusturica, mas que levaríamos lá a casa e apresentávamos aos pais. Ainda houve espaço para “I Wanna Dance With Somebody” só com Matthew e uma guitarra em palco. Um bom momento que nos manteve em bicos de pés; o nervosismo era tal que a qualquer momento tudo podia descambar. Não aconteceu, mas a incerteza tornou a versão do tema de Whitney Houston a melhor parte do concerto.
Ouvimos Miguel ao longe e relatos em segundo mão dizem-nos que foi bom. A proposta R’n’B do californiano com um só nome não nos fascina e as 20h dizem-nos que são horas de comer qualquer coisa.
A infelicidade da morte do baixista Kevin Garcia ditou o cancelamento da digressão dos Grandaddy. Coube aos Arab Strap preencher a vaga que deixavam nos NOS Primavera Sound. Os escoceses caíram de para-quedas, mas não acusaram a surpresa. O seu spoken word mais roqueiro enquadrou-se com o que estava a ser a temática melodramática do dia. Por entre letras introspectivas e urbanas ainda houve tempo para o comentário político. Aliás, foi graças aos artistas que durante o festival fomos sendo actualizados sobre o que acontecia no Reino Unido. Os Arab Strap foram inesperados, mas bem vindos. Foram a forma do Primavera dizer que, se não conhecêssemos, podíamos “à confiança” ir espreitar.
Finalmente, o primeiro grande nome da noite. Até Run The Jewels, a bitola estava algures na categoria do desfrutável. Depois do super grupo entrar em palco tornou-se complicado olhar para trás e tentar comparar com o que até aí tínhamos visto. Foi a entrega total do público e a entrega dos RTJ à cidade do Porto que fizeram deste um momento mágico. Mas já nos alargámos noutro artigo sobre o concerto e recomendamos a leitura.
Faltavam Flying Lotus e Justice para concluir o primeiro dia. Não quisemos ser mal interpretados nos pareceres que demos sobre ambos os concertos, mas olhámos em volta e seria difícil ignorar o que vimos. No palco Super Bock, cá para trás vimos quem aproveitasse para dormitar e em Justice houve uma debandada inesperada para a saída. Foram concertos maus? Objectivamente, não. Quem gostou, gostou. E não estão errados por isso, nem o quisemos dizer. Seria impossível, para estes artistas que fazem do que de mais interesse há na música eletrónica, darem um mau concerto. Mas ao vivo é preciso que se traga algo mais do que aquilo que já sabemos resultar em estúdio. E só o houve para quem fez o seu próprio entretenimento e decidiu arriscar um mosh mansito. Nada contra, o importante é cada um fazer valer por si o preço de admissão.