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O segundo dia de festival começa com muito mais energia. A maior afluência terá contribuído para isso.
Os First Breath After Coma tomam conta do primeiro concerto do dia e levam o ouro para a maior plateia inaugural dos três dias. O dia convidava a sentar na relva e apanhar sol; muitos fizeram-no, mas era igualmente comendável o número dos que se chegaram à frente para apoiar a banda leiriense. Da nossa parte, é sempre um orgulho ver uma banda que ainda ontem actuava numa festa Arte-Factos no Bacalhoeiro e agora alcança este patamar.
Quando chega o primeiro movimento migratório, os festivaleiros dividem-se. Uns, poucos, para o palco com o nome mais complicado de escrever ( “Palco.”), outros para o palco NOS para ver Pond. Também nós abdicámos de Jeremy Jay em favor da alegria contagiante dos músicos de “Sweep Me of My Feet”. O dia anterior foi um pouco mais introspectivo do que antecipávamos e há que repor a dose diária recomendada de diversão.
Nick Allbrook é provavelmente o mais inquieto de todos os artistas desta edição do NOS Primavera Sound e uma daquelas almas que nunca deve ter sido tocado pelo cinismo. O sacana. Mesmo antes do concerto terminar, despede-se com um desejo: ” We’re gonna play one more song and then you can go on having a beautiful day.” Quem é que estas pessoas julgam que são com os seus sentimentos de amor fraterno para com o resto da humanidade?
Bem, estava na altura de decidirmos: Whitney ou Royal Trux?
Optámos pelos últimos. Um erro.
Estamos a consultar as notas que tirámos durante este concerto e o que temos é a frase ” eles não estão completamente cá”. Particularmente, Jennifer Herrema, a vocalista, parecia já ter tido a sua conta de sabe-deus-o-quê. O rock alternativo dos americanos entretem-nos por pouco tempo, é ignorável o suficiente para nos deixarmos estar até Angel Olsen começar.
O concerto de Angel Olsen é perfeitamente aceitável. Há qualquer coisa que não se está a concretizar. “Shut Up, Kiss Me, Hold Me Tight” é o segundo tema e, contra tudo o que seria de esperar, não nos suscita mais entusiasmo. Somos nós, não tu, perdoa-nos.
Fazemos o caminho de volta ao Palco. de onde não arredaríamos pé até ao final da noite. Sleaford Mods está prestes a começar e depois haverá Swans.
Como é que explicamos o duo de quarentões que faz dos Sleaford Mods uma das bandas mais interessantes da actualidade? Têm tudo para não resultar e ainda assim… Quando entram em palco o aparato é o que se esperaria: Um salutar ” Evening,” carregar num botão e “Army Nights.” É a loucura. Só num concerto de Sleaford Mods temos direito a tiradas políticas – “this is a bad day for England, but a good day for Porto” – e sons de peido, porcos, ovelhas e outros animais de quinta. Há uma frase de Jason Williamson que resume bem o sentimento que envolve o concerto “Did you see me trip over? But it didn’t look out of place”. Tudo é permitido e nada parece fora de contexto. É o que justifica ser 2017 e um homem a balir em palco dá um concerto memorável.
“The Sleaford Mods would like Porto to know that we would like to comeback.” Nós também.
A escolha por excelência do festival estava prestes a chegar: Bon Iver, Swans ou Julien Baker ? Seriamos tão hipsters que até Bon Iver deixaríamos de ver? Sim, seríamos. Na verdade, havia uma lógica: não haveria muitas outras possibilidades de voltarmos a ver Swans – só que não, com a confirmação de duas novas datas – e os Bon Iver são demasiado grandes para não voltarem cá. Arriscámos com Julien Baker (não de todo, porque ainda fizemos umas fotos), mas temos fé que Portugal ainda se venha a apaixonar por ela.
Achamos ter feito a escolha certa. O concerto de Swans foi uma experiência espiritual. Há muito tempo que não íamos à missa, mas a comparação que nos pareceu apta é a de estar perante algo entre um padre e um maestro quando olhávamos para a figura de Michael Gira de braços erguidos como que em oração. A setlist não incluiu temas como The Seer, mas The Knot foi um slowburner que resultou expectavelmente bem para arrancar. Comentávamos com um amigo que é difícil fazer uma reportagem de Swans; é, simplesmente, um tipo de concerto à parte. Os exemplos que avençamos foram os concertos de música erudita, ou uma instalação sonora. Acho que a verdade está algures no meio. Só que com o volume no 11. E exaustivo. O maior concerto a que assistimos pede uma entrega que mais nenhum exige.
Quando terminou o concerto, já não sabíamos com que cabeça iríamos ver os australianos dos King Gizzard & The Lizard Wizard. Dizer que nos surpreenderam como não esperávamos ser surpreendidos é um eufemismo. Não nos poupámos em palavras na nossa reportagem e recomendamos que a leiam.