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Os números são impressionantes: no último dia de festival, em tempo de balanço, ouvimos a organização da 5ª edição do acto portuense do Primavera Sound contabilizar mais de 80 mil pessoas no Parque da Cidade em três dias, 50% dos passes gerais vendidos além-fronteiras e a presença de 58 nacionalidades, numa internacionalização bem à vista a cada instante. Este é o melhor cartão de visita de um festival que já se afirmou no panorama nacional.
Foi também o dia que começou um pouco mais tarde do que eu previa, essencialmente pelo rosto mais humano do festival: o reencontro com os amigos e os balanços à mesa, acabaram por me fazer perder Cate Le Bon. Mas estou confiante de que em breve a iremos ter em nome próprio numa sala nacional. Como se isto não bastasse, foi um dia de algumas sobreposições e escolhas difíceis. Os grandes concertos da noite, curiosamente (ou não), pertenceram a duas bandas mais instrumentais e de poucas palavras, maduras e uber-profissionais: Battles e Air que tocaram em palcos distintos, para públicos que se diferenciavam.
Os Battles reuniram a sua tribo na colina numa espécie de chamamento tribal, com ritmos bem compassados e cheios de personalidade. Quando finalmente nos sentámos, ouvimos a obra-prima que é “Ice Cream”. Não, Matias Aguayo não subiu ao palco, mas também não houve problema. O trio nova-iorquino é de um rigor e profissionalismo exemplar; nada falha e cada detalhe é uma maratona rumo à perfeição. Nasceram do math-rock e a repetição está-lhes no sangue. Percorreram os três registos, do «Mirrored» de 2007 ao recém-editado «La Di Da Di», e ergueram um coro de vozes não ensaiadas (mas que pareciam) no seu clássico “Atlas”. Foi a consagração num maravilhoso final de tarde estival. Entre bateria e guitarras, o que os nova-iorquinos fazem soa a tudo, excepto à instrumentação “clássica” da sua música.
A noite já havia caído no recinto e as estrelas já brilhavam no céu quando os Air subiram ao Palco NOS. Donos da pop mais sonhadora com ecos e distorção, franceses como manda a lei, trajaram branco enquanto nos recordaram porque tanto gostamos deles, enquanto caminham para o 20º aniversário de carreira. Aliás, aproveito já para deixar dica: queremos os Air a interpretar «Moon Safari» no Primavera 2018. O concerto fez-se de forma coerente e apaixonada, mas registou alguns momentos de maior emoção: “Cherry Blossom Girl” e “Sexy Boy” são dois hinos ao amor, ganhando ainda mais textura ao vivo com alguns desvios à composição original e com aquele sotaque arranhado de um parisiense a tentar o seu melhor na língua inglesa. Houve ainda uma passagem instrumental pelo clássico e cinematográfico “Playground Love”, mas ficou tão aquém do original que acabou por ser um exercício desnecessário. Felizmente, salvaram tudo com o muito dançável “Kelly Watch The Stars” e encerraram a noite com “La Femme d’Argent”.
A noite prosseguiu com ritmos mais pesados, picando concertos entre palcos. Passei por Drive Like Jehu mas o caos não me impressionou, espreitei Titus Andronicus mas não souberam reter-me, e ouvi Unsane mas não souberam puxar-me para mais perto. Tive muita pena de não ter assistido a Ty Segall, é sempre um prazer reencontrar o rei do garage lo-fi, especialmente pela sua componente visual creepy – mas vi-o no recinto e tive direito a um sorriso do norte-americano, nada mau. Também perdi Moderat mas fi-lo de forma consciente, sei que ao vivo dão grandes concertos e que em breve voltarão a Portugal. Estas duas perdas têm como responsáveis os Shellac de Steve Albini, que tocaram em simultâneo no Palco Pitchfork.
Os Shellac são a melhor forma de encerrar os três dias de cartaz. Ano após ano, regressam ao NOS Primavera Sound (e a Barcelona), numa espécie de residência, mas vê-los é sempre refrescante e delicioso. Claro que tocaram a “End Of Radio”, a “Squirrel Song”, a magnífica “Steady As She Goes”, a “You Came In Me”, a “Dude Incredible” e todas, todas as outras. E claro que foi incrível: tanto que 12 horas depois, ainda ecoam nos meus ouvidos. Depois deles, ainda tocaram os Royal Headache, mas – coitados – saíram penalizados por tocarem a seguir aos mestres do math-noise. Os Shellac são o melhor que o rock tem para oferecer em pleno século XXI e fecharam o nosso NOS Primavera Sound 2016 com chave de ouro.
A música regressa ao Parque da Cidade dentro de um ano. A sexta edição irá decorrer nos dias 8, 9 e 10 de Junho de 2017. O meu conselho: apanhem os primeiros bilhetes, que serão postos à venda a 4 de Julho. Garanto que não irão arrepender-se.