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Últimos cartuchos do festival. O terceiro dia tem a tarefa complicada de, pelo menos, prometer alguma esperança de vir a superar o segundo. Bon Iver, Swans, e, sem que muitos o saibam, King Gizzard & The Lizard Wizard são concertos difíceis de bater. Os olhos estão postos em Aphex Twin que dará um concerto excelente. Consta-nos. Não fomos ver.
Mas não nos adientemos e comecemos pelo princípio: Núria Graham.
Quando vimos a figura petiz em palco quisemos fazer a comparação fácil com PJ Harvey, mas o lugar comum era óbvio e não muito preciso. Não, St. Vincent é bem mais apropriada. O cabelo está muito mais bem penteado, e os trejeitos envergonhados dão a Nuria Graham uma fofura que não se consegue medir em escala nenhuma. A dissonância entre o embaraço dos movimentos e o conteúdo lascivo das letras são a maior parte do apelo da artista catalã. Claro que o rock descomplexado que traz com a sua banda também faz por merecer as palmas do público que vai pulando à frente do palco – oiça-se “Bird Eyes” para o comprovar – e a versão de “Toxic,” de Britney Spears, foi um bom momento para recordar.
Abrimos caminho para o “Palco.” para ouvir os Songhoy Blues. Vamos às cegas e a fazer figas.
“We’re gonna jam together today, ya ready for that?” questiona-nos o vocalista que, com a sua banda, tem mais pinta que Bruno Mars num tema de Mark Ronson. Não estávamos à espera do nível de energia que vibrava em palco. De ritmo no pé e guitarras em punho, os Songhoy Blues conquistam-nos pelo cansaço. Se ninguém estava a dançar, então a banda do Mali lançaria os foguetes e apanharia as canas sozinhas até que alguém se juntasse a eles. E assim foi. A mistura de funk, punk, blues e alegria era profundamente contagiante. Lembramo-nos de algum dos temas? Não. Lembramo-nos de estar a sorrir o tempo todo? Definitivamente, sim.
Acabaríamos por não ver o fim da actuação dos Songhoy Blues. No palco Super Bock a mulher do fim do mundo chamava-nos e tencionávamos responder “presente.”
De um concerto cheio de pulos, para uma Elza Soares sentada, sobejamente purpura e cativante. A septuagenária está elevada em palco num trono que faria inveja nos Sete Reinos. Não percebemos os sacos de plástico pretos, mas [inserir comentário sobre as alterações climáticas e o paralelo com o fim do mundo].
Apesar de sempre sentada, a Tina Turner brasileira foi extremamente comunicativa. “Temos de fazer uma festa linda, vamos? Então quero gritos,” pediu várias vezes ao longo do concerto. E gritou-se. Até quando esta senhora nascida na década de 30 repetia como se estivesse em competição com os Linda Martini o infinitivo do verbo “foder”. Gritou-se ainda mais quando cantou os parabéns a Portugal, o que é ligeiramente gratuito, mas o mais alto foi para Gisberto, a transsexual morta às mãos do preconceito, cuja história foi lembrada antes de “Benedito e Benedita”. É bem, Primavera.
De volta ao “Palco.”, posicionamo-nos para ver os habituais da casa. Os Shellac de Steve Albini são uma presença assídua no NOS Primavera Sound. Estes jovens de meia idade dão um concerto absurdo, no sentido próprio do termo (fazer um avião em palco é naturalíssimo), e cheio de força adolescente. Não houve tempo para um Q&A durante a actuação, mas se precisarem de saber mais sobre estes reis do noise basta ler a entrevista de Albini ao Arte-Factos.
Quando os Shellac terminam o set ninguém arredou pé. A seguir vinham os Death Grips fazer a festa e este seria um espectáculo a não perder. Já nos alongámos sobre a cacofonia de violência, mas não é demais reforçar. Andaríamos à porrada pelo direito a dizer que foi o melhor concerto do terceiro dia. Foi perigoso, suado, barulhento, virolento e exaustivo. Foi o que pedimos.
Mas Death Grips deixou-nos um problema. Confessamos que “O” nome deste festival para o tipo que escreve estas linhas era Japandroids, e por esta altura temíamos que tudo o que ainda estivesse para vir se empalidecesse comparado com o que acabávamos de assistir. No entanto, há que separar as águas. Death Grips são um monstro diferente de tudo o resto, sem que nenhum prejuízo daí resulte. Os Canadianos de Vancouver com o nome nipónico dão um belíssimo concerto com a sua energia própria. É mais alegre que violento, é mais rápido que pesado e é mais jovial que sombrio. Uma guitarra e uma bateria em palco e um novo e excelente álbum para apresentar fizeram as delícias do que era, admitidamente, um público que podia e devia ter sido maior.
Finalmente, reservámos para último concerto os “The Black Angels“. A esta altura do campeonato o corpo já não seria capaz de aguentar Aphex Twin, mas ainda não queríamos dizer adeus à cidade do Porto. Foi bom? Sim. Esperávamos mais? Depois de King Gizzard, sim. E não deixamos de mostrar algum desapontamento com a completa ausência de temas de Indigo Meadow. Percebemos a vontade de mostrar novos temas, mas o repertório dividiu-se entre o último longa duração e outros bem mais antigos que o lançamento de 2013.
Ainda tentámos correr (leia-se, andar devagarinho mas com entusiasmo) para apanhar o fim do concerto de Against Me!, mas nada feito (calma, que ainda assim há fotos). O festival estava resolvido. Os mais resistentes ainda tinham energia para gastar no Palco Pitchfork, mas a que nos restava estava adjudicada à A1.
Para o ano há mais.
