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Na passada sexta-feira deslocámo-nos até ao Maus Hábitos, no Porto, para o concerto de apresentação de “A Rose is a Rose is a Rose“, o novo disco de Old Jerusalem.
É entre amigos e caras conhecidas, a quem Francisco Silva promete pôr a conversa em dia depois do espetáculo, que Old Jerusalem se materializa em palco, com a prestação de Sérgio Freitas no teclado, Miguel Ramos no baixo, Miguel Gomes na guitarra e Pedro Oliveira na bateria.
O ambiente é de descontração, um que raramente vemos. Quando foi a última vez que viram o público sentado no chão, em pleno concerto? (Com a rara exceção do subaproveitado Palco Stockhausen d’O Salgado Faz Anos Fest).
Estamos, claramente, na sala de estar de Francisco Silva. A intimidade com que nos envolve é de nos tirar o fôlego e uma que nos obriga a contar pelos dedos a quantidade de vezes que o sentimos em restantes concertos. Somos, também nós, amigo dele e percebemos cada palavra que profere, cada expressão que lhe passa pela cara, cada acorde que lhe passa entre os dedos. Entre músicas do trabalho novo e algumas viagens no tempo aos primórdios do cantautor, há que destacar a música que dá nome ao álbum, “A Rose is a Rose is a Rose” e a “Airs of Probity“, que admite ser uma das mais difíceis de tocar. É uma faixa estonteante ao vivo, mais do que capaz de nos arrepiar até à espinha.
Outros momentos destacaram-se durante a noite, especialmente aqueles em que Old Jerusalem parecia puxar o folk. Vimos isso em “One For Dusty Line” (o single destacado para o disco) e em “Stroll“, uma música consideravelmente mais riffada que as anteriores, indicada para surpreender um público tão habituado à chonice (palavra utilizada uma ou duas vezes pelo próprio). Durante cerca de um minuto, na parte instrumental da “Stroll“, Old Jerusalem abre-nos o apetite e faz-nos querer um álbum mais áspero, ainda que com o charme de sempre.
O encore trouxe-nos um Francisco Silva a sussurrar-nos ao ouvido com a sua guitarra, luzes desvanecidas, a formação de músicos que o acompanhavam agora para trás. Aqui torna-se claro qual o percurso seguido para qualquer álbum. A virtude e a magia da sonoridade de Old Jerusalem centra-se (mas não se deixa ficar) pela voz de Francisco Silva e pelas letras, que são o epítome de belo, deixando as melodias tão agridoces como meticulosamente esculpidas para segundo plano. Isto faz todo o sentido quando nos apercebemos (quase de certeza à primeira audição mais atenta) de que a música de Old Jerusalem não se sente no corpo, mas nas entranhas, perto de onde possa existir uma alma.
O nome do álbum surge das palavras usadas pela primeira vez por Gertrude Stein num poema, em que dizia “a rose is a rose is a rose”. O ceticismo de Stein, afirmando que as coisas são o que são, perde-se completamente neste disco.
Não haverá álbum mais cândido do que este.