Reportagem


Pixies

Sem pausas, sem adereços, apenas e só a sua música.

Coliseu Porto

21/11/2016


© Lino Silva

Os Pixies regressaram ao nosso país, para um concerto no Coliseu do Porto muito bem composto. Provaram que, mesmo depois de 25 anos, os temas que os celebrizaram não perderam a sua força.

A maior parte dos que correram – debaixo de um dilúvio – até ao Coliseu para ver Black Francis e companhia, eram adultos acompanhados de amigos ou até pelos filhos, e certamente já teriam visto a banda numa outra qualquer ocasião. O que leva então esta multidão a regressar?

As luzes apagam-se e o quarteto arranca, titubeante, mas logo ao segundo tema saca de um trunfo, “Gouge Away”, comandado pelo baixo de Paz Lenchantin que é agora a substituta de Kim Deal. Com esta canção vem o primeiro pico de excitação.

A mesma excitação exacerbada que aparece com “I’ve Been Tired”, “Something Against You”, “Bone Machine”, “Nimrod’s Son”, “Mr. Grieves”, no surf rock de “Here Comes Your Man”, em “La La Love You” – em que o baterista David Lovering é o protagonista – ou nas duas versões de “Wave Of Mutilation” e claro, nas eternas “Where Is My Mind?”, “Debaser” e “Monkey Gone To Heaven”. Ou seja, sempre que o grupo de Boston toca temas de Surfer Rosa e Doolittle, os dois discos do final dos anos 80 que apresentaram os Pixies ao mundo. Os dois discos com que os Pixies dinamitaram o rock.

Faltou “Hey”.

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© Lino Silva

Sem qualquer tipo de palavras e com um palco quase completamente despido, o coeso grupo de Boston fez da honestidade da sua música uma bandeira durante todo o concerto. Sem pausas, sem adereços, apenas e só a sua música.

Para o encore ficaram reservadas uma versão longa de “Vamos”, em que Joey Santiago – um dos guitarristas mais subvalorizados da história – foi estrela principal e “Into the White”, com a banda a sair de palco debaixo de uma enorme nuvem de fumo branco.

O que leva então uma multidão de pessoas, maioritariamente nos seus quarentas, a gritar a plenos pulmões barbaridades como “Don’t know about you but I am un chien andalusia”? A razão foi muito bem explicada por Marcel Proust depois de ter comido uma madalena e ter ido em busca do tempo perdido. A nostalgia do passado, para muitos até de uma outra vida, foi o principal motivo que fez centenas de pessoas voltar a ver os Pixies, mesmo que estes tenham passado 25 anos sem qualquer relevância musical.


sobre o autor

Carlos Vieira Pinto

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