Reportagem


Profjam

Calma, calma, calma, que o professor chegou

NOS Primavera Sound

07/06/2019


Ao contrário de edições anteriores, este NOS Primavera Sound não nos obrigou a escolhas de partir o coração. O mais próximo disso foi escolher entre os nomes nacionais, Surma e Profjam, que, há mesma hora, davam o “partida, largada, fugida” do segundo dia.

Desculpa, Surma, mas a escolha recaiu sobre Mário Cotrim, nome do registo civil de Profjam. E como quem não quer a coisa juntámos mais um capítulo à saga “Isto não tinha obrigação nenhuma de ser tão bom e adorámos mais do que podíamos antecipar.”

“Como é que é, Porto?,” pergunta Mike El Nite por trás da mesa. A reposta foi tímida e justificou a insistência: “COMO É QUE É PORTO?” E aí o Parque da Cidade respondeu presente com intenção. “Alright, let’s do this.”

E lançou-se o espetáculo. O público era maior do que seria de esperar para aquela hora e acercava-se sem medos da frente do palco para ver os jovens em palco, completamente de branco. Obrigado Boyz II Men (e todas as boy bands em 1998) por uma moda que nunca vai desaparecer.

É Profjam o maior nome do trap em Portugal? Se não for, citando Manuel Serrão, “diga um” nome que seja maior. Pode ser só desconhecimento, admitimos, mas não nos ocorre outro nome que tenha extravasado tanto para o mainstream. É que a oferta de Profjam tem mais variedade do que os lugares comuns do hip-hop. É verdade que ontem ao vivo, nos pintava os cenários “maiores do que a vida” da Califórnia, ou os “territorial pissings” de “É Nossa,” mas não se esperava a introspeção desarmante de “À Palavra” quando recita “aprendi que a vista custa/só não custava a mim.” À vontade uma das melhores reflexões sobre a natureza dicotómica de ser um artista de rap que tenta balançar o discurso do auto-hype (“Deus certificou-me , I’m a certified G”) e da humildade (“pensava que era woke mas juro tava a dormir”). Nota 20 e pontos extra pela referência a Dragonball Z.

Mas já que mencionámos lugares comuns, deixem-nos desfrutar o prato. Nada contra o auto-tune, mas não dá para desligar enquanto se fala normalmente para o público?  Ainda rimos um bocadinho, da mesma forma que achámos graça ao uso não irónico da expressão “meus putos” em 2019, ou a dedicatória aos pais que envolvem o agradecimento “não estávamos aqui se não nos tivessem parido.” Fofo. Felizmente era contexto para apresentar ” À Vontade” e fazer Fínix sair do backstage.

Calma, é só a brincadeira. Fazemos todas as vénias a quem dá tudo de si em palco. Corre, interage, “droppa umas shits” acapela que devem ter deixado algumas orelhas a arder, e que, acima de tudo, age como se estivesse num palco muito maior. Acreditamos piamente na teoria das profecias auto-concretizaveis, e Profjam há de ser profeta de um sucesso muito maior. É ficar atento.

“Meus putos, vocês para estarem aqui a estas horas é porque devem ser da nossa team,’ não?”

Se não era verdade para todos passou a ser. Por altura de “Tou Bem” ouvia-se mais o público cantar “Calma, calma, calma” que os microfones em palco.

No fim, o artista que acabava de fazer 28 anos, e com direito a que lhe cantassem os parabéns, confessava: “Não estava à espera desta receção a esta hora.”

E foi assim o início do segundo dia. Surpresas para todos.

Galeria


(Fotos por Hugo Rodrigues)

sobre o autor

Jorge De Almeida

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