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Havia um dress-code para o NOS Primavera Sound e não fomos avisados. Para além das mochilas Fjallraven Kanken que se espalharam mais depressa que a praga infeciosa que foram as t-shirts da Levis em 2018, um número inusitado de artistas decidiu que a cor branca estava “in”.
Foi o que pensámos quando surgiram as bailarinas de Rosalía em palco. A artistas seguir-lhes-ia e quando a música explode ao som de metralhadoras e ficamos deslumbrados pela coreografia.
“Pienso en tu mirá,” começa o espetáculo da melhor forma e depressa se percebe que os festivaleiros estão solícitos para dançar ao ritmo dos sons latinos da espanhola que despe os seus temas dos instrumentos canónicos e os substitui por batidas e sintetizadores. É a actualização do que a Jennifer Lopez tentou em tempos, só que em “bom” e num contexto global que está mais receptivo a sonoridades latinas.
Enquanto a coreografia nos fascinava, íamos ouvindo também a voz gravada de James Blake, procurávamos entender as mudanças de inglês para castelhano e tentávamos enquadrar este concerto no conceito de festival que o NOS Primavera Sound sempre tentou ser. O nome de Rosalía não seria o mais óbvio para o certame, e, no entanto, não foi o mais “extra-concurso” desta edição. Goste-se, ou não, a presença da espanhola é sinal de que a organização ainda vai sentindo o pulso das novas gerações de melómanos. Talvez tenha sido precoce uma aposta tão forte noutras sonoridades já este ano – nenhum dia do NOS Primavera Sound esgostou – mas só o tempo o dirá.
Certo é que a artista deu um espetáculo competente que fez dos menos crentes devotos. Se os temas não fossem suficientes, os malabarismos vocais – meu Deus, “Catalina” esgotou até os pulmões de quem estava calado – e o espetáculo visual só não convencia quem quisesse ser casmurro.
A artista, por sua parte, falava à plateia no que parecia ser um discurso ligeiramente ensaiado – excepto quando quase caía – mas ninguém se queixaria. Afinal de contas, veio a público abraçar e ser abraçada. É dedicação.
Ainda estamos a pensar no propósito da imagem de selfie que vimos nos ecrãs de uma Rosalía mais nova e olhos impossivelmente grandes, mas mais vale não pensar muito nisso.