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“O Salgado faz anos… FEST” não é apenas uma festa. É um festival. Uma noite, três palcos, mais de vinte concertos e DJ sets. A ocasião é o aniversário de Luís Salgado, programador do Maus Hábitos e reconhecido pelo seu trabalho como Stereoboy. Com tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo, é natural que cada pessoa desenhe o seu percurso neste festival. Este relato é por isso um retrato pessoal mas nem por isso intransmissível.
A noite começa com Galgo no palco “Super Nova”. Com o primeiro disco editado no final de 2016, a banda de Oeiras tem ritmo e pujança. Balançam entre um math rock geométrico e algo mais escuro e visceral. Pena que por vezes pareçam uma versão menos inspirada de PAUS (ou não fosse o álbum gravado nos estúdios HAUS). Ainda assim, a bateria quebrada não parece deixar ninguém indiferente.
Enquanto isso, no palco “O Salgado” começam a ouvir-se os primeiros acordes de Memória de Peixe. Outra banda que lançou um novo álbum em 2016, depois de um hiato de quatro anos. Ver um concerto desta banda tem sempre um interesse especial, já que é a única forma de assistir in loco à construção dos temas, com riffs gravados e sobrepostos, num exercício de autêntico artesanato. As novas músicas, à partida, parecem mais trabalhadas do que as do primeiro álbum, embora não tão orelhudas. Seja como for, é bom tê-los de volta.
Tempo para voltar ao palco “Super Nova”, onde já tinham começado Vaiapraia e as Rainhas do Baile, uma banda que começa a dar que falar. É sabido que, mais cedo ou mais tarde, todas as modas acabam por chegar a Portugal. E estes Vaiapraia e as Rainhas do Baila arriscam-se a ser os representantes portugueses do movimento queercore. Com um punk sem espinhas que por vezes tropeça em momentos mais sentimentais, intercalado por palavras de ordem e dedicatórias a temas sociais ou questões de género, Vaiapraia e as Rainhas do Baile tem tanto de concerto como de performance.
Logo a seguir são horas de visitar o palco “Stockhausen”, dedicado às sonoridades mais experimentais. A sala é pequena e está apinhada, com muita gente sentada no chão de olhos fechados como se uma celebração religiosa se tratasse. No altar está Acid Acid, o projecto de Tiago Castro da rádio Radar. Combinando guitarra, pedais e sintetizadores, Acid Acid desenha sobre loops intermináveis pequenas variações sonoras, que a pouco e pouco vão ganhando forma e cor. É uma experiência hipnótica e por vezes quase mística.
Depois da viagem de Acid Acid, todos os caminhos parecem convergir para o palco “O Salgado”, onde um dos nomes mais sonantes da festa está prestes a arrancar. Falamos de Throes + The Shine, aos quais alguns espectadores menos informados na fila atrás se referiam como “uma mistura de metal e kizomba”. Não é bem isso mas, dado o tiro de partida, pouco importa. O Maus Hábitos quase vem abaixo com o ritmo frenético de uma banda que parece ter nascido para isto. O som nem sempre parece equilibrado e a temperatura não pára de subir, mas nada disso tem importância quando os Throes + The Shine tocam “Hoje é Festa”.
Ao mesmo tempo, ocupava o palco “Stockhausen” um gajo que não podemos dizer o nome. Assim constava no cartaz o segredo mais mal guardado do festival. Era o título sob o qual se apresentou Samuel Úria, que aproveitou a oportunidade para interpretar alguns temas mais antigos do repertório, num concerto intimista que os presentes dizem ter sido bastante agradável.
Terminados todos os concertos, é tempo para os DJ sets. O alinhamento corre atrás do relógio e é já com algum atraso que Nuno Dias sobre ao palco “O Salgado”. Ele que, para além de personalidade de culto da internet, pode ser considerado o DJ mais honesto do mundo. Embora nem sempre acerte com as passagens entre músicas, tudo isso é esquecido perante a forma exuberante mas sincera como Dias vive cada momento. Passe Limp Bizkit ou Lauryn Hill, Nuno Dias é um espectáculo dentro do espectáculo.
Ao mesmo tempo, no palco “Super Nova”, estava nitronious. Menos exuberante mas com um grande à vontade na mesa, apresentou um set focado em hip-hop mais contemporâneo. Talvez porque é presença habitual na noite portuense, não eram muitas as pessoas na sala.
Ou isso ou porque na outra sala preparavam-se para subir ao palco os Gin Party Soundsystem. Presença habitual nas festas de aniversário do Salgado, os GPSS são um colectivo de DJs especializado em eurodance e sonoridades de qualidade duvidosa que nenhuma pessoa sóbria admite apreciar. É um conceito divertido mas que, por outro lado, dá pouca margem para inovar. É verdade que àquela hora já pouca gente queria saber, mas ainda assim alguns problemas sonoros impediram que fosse um set especialmente memorável.
No cartaz restavam ainda alguns nomes e muitos resistentes entre as várias salas, mas lá fora o sol começava a nascer. Mais um dia, mais um ano. Voltamos a encontrar-nos em 2018, na festa do Salgado.
Dissidente e subversivo por natureza. É benfiquista militante. Já desistiu de mudar o mundo e agora só tenta que o mundo não o mude a ele. (Ver mais artigos)