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Nas derradeiras horas do Festival para Gente Sentada em Braga, fomos presenteados com enorme talento nacional. A noite fria de um Outono que se revela ao anoitecer acompanhou-nos do Theatro Circo ao gnration, numa escalada até à Black Box.
Esperava-nos um grande piano, dois microfones, quatro focos de luz e um intenso encarnado. Pouco depois chega Luís Severo, figura franzina que vimos crescer. Desde os 16 anos vai gravando aqui e ali, relatando a vida suburbana como Cão da Morte – e se a memória não me trai, a dada altura, como Luís Gravito – nos círculos empreendedores da edição desenrascada em que se move: a Cafetra, a Cuca Monga, a Gentil, a Maternidade. Mas como quem muda de B.I. quando as feições de infância já se desvaneceram por completo, ei-lo agora com total conforto e em nome próprio: Luís Severo.
Já passaram dois anos desde que lançou “Cara d’Anjo” e este acabou por se transformar num poderoso disco que até já merece inscrição no percurso da música portuguesa. Neste 2017 o conforto e a segurança confirmam, com a edição de “Luís Severo”, disco ainda mais avassalador e revelador das ideias que lhe atravessam o pensamento.
No silêncio de uma sala esgotada, a sua voz eleva-o e tranca o nosso olhar no palco. O público acompanhou-o nas letras, evidência que convence os mais cépticos: Luís Severo já não é nem de nicho, nem um segredo mal guardado, mas antes um artista plenamente reconhecido pelo público. Vale-lhe a elegância com que se move, descolando-se assim de B Fachada com quem muitos comparam, e aproximando-se a olhos vistos de vultos maiores como Leonard Cohen – com o devido respeito e distância, claro está. Luís Severo enche um palco como poucos, e deixa a sua magnífica voz melancólica e sublime a ecoar nos nossos ouvidos.
Mas festa é festa e nenhum festival de música fica completo sem um pezinho de dança de celebração. O derradeiro concerto da noite estaria a cargo de outro Luís, o Luís Clara Gomes, que há muito adoptou Moullinex como nome de guerra.
“Hypersex” é o terceiro álbum de estúdio, uma celebração do seu ofício: uma carta de amor à música. Em palco, Moullinex fez-se acompanhar por Ghetthoven, e transportou-nos para o seu universo de culture club. E a certa altura desafiou o espaço-tempo e saltou para a plateia, embrenhando-se na curtição do seu público.
Ao vivo, como seria de esperar, a sua música ganha personalidade e cresce, adquirindo vida própria para lá do disco. Se eu não soubesse que a Black Box do gnration é uma sala fechada, até juraria que ouvi fogo de artifício.
Que noite incrível.
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Bandas que também tocaram neste dia e já curtimos noutros cenários: Julien Baker / Ermo / Capitão Fausto em “Pontas Soltas”