Shabazz Palaces

Na passada quinta-feira, a dupla Shabazz Palaces regressou a Lisboa para um concerto que superou as expectativas. A Galeria Zé dos Bois esgotou para ouvir a dupla que trazia consigo Lese Majesty, um dos álbuns mais aclamados de 2014, para apresentar.

Ishmael Butler e Tendai Maraire abriram as hostes com Forerunner Foray. O concerto, que só haveria de acabar mais de duas horas depois, aqueceu e muito com o ondular dos corpos que se aglomeravam pela sala.

O que mais nos prende na actuação dos Shabazz Palaces é a ousadia com que redesenham os limites do hip-hop. Pouco convencionais, buscam novas inspirações e integram-nas nas suas músicas, criando uma fusão de estilos que, se em álbum já é marcante, ao vivo torna-se desconcertante. No melhor dos sentidos, claro. They Came In Gold, #CAKE ou Down In Luxor são exemplos disso: do tribalismo para os confins da galáxia através de progressões psicadélicas, os corpos levantam vôo e vão para onde eles nos quiserem levar. Não é ao acaso que têm trabalhado com os melhores dentro do género, tal como Flying Lotus, igualmente conhecido por ser pouco convencional.

O tempo corre, guiado pelas camadas de loops criadas pela multifacetada dupla, que vai continuando a dar um ar de sua graça com algumas coreografias bem treinadas. Apesar de cada um ter as suas próprias influências e postura, a harmonia do resultado final é perfeita. Butler assume em palco a personagem mais extrovertida e o que mais procura a ligação ao público, enquanto que Maraire se mostra mais enigmático ao comando da percussão.

Ainda bem que existem artistas que não se contentam com “mais do mesmo”, principalmente num estilo já sobrecarregado e onde é fácil cair nos lugares comuns. A veia experimentalista dos Shabazz Palaces é o que lhes confere todo este encanto e, daqui por uns tempos, pode ser que estejamos a discutir o seu papel na redefinição do hip-hop.